Em dez anos, entre 2010 e 2020, o número de brasileiros que consumem vinho de forma regular (os que declaram ter bebido ao menos uma garrafa no último mês, segundo critério definido pela consultoria inglesa Wine Intelligence) saltou 74%, de 22 milhões para 39 mihões de pessoas. E o consumo aumentou ainda mais com a pandemia. Na comparação com 2019, ele cresceu 18% no País, maior taxa mundial de acordo com a OIV, organização intergovernamental dedicada ao vinho — e atualmente presidida pela brasileira Regina Vanderline.

Mesmo depois de se abastecer tanto, a sede permanece. Em abril deste ano, a importação de vinhos e espumantes teve alta de 37,2% na comparação com o mesmo período de 2020 — o primeiro mês completo sob efeito da pandemia. Nos primeiros quatro meses de 2021 foram importadas 4,8 milhões de caixas de 9 litros. Com mais gente comprando, as importadoras passaram a faturar mais — e a se movimentar para atrair mais consumidores. “O mercado está vivendo um processo de consolidação que tende a se acentuar”, afirmou o consultor Rodrigo Lanari, da Winext.

A primeira grande movimentação no setor foi a compra da Cantu Importadora, empresa que mais cresceu no segmento B2B no Brasil, pela Wine, dona de um clube de assinaturas com 250 mil sócios ativos e receita de R$ 400 milhões em 2020. A aquisição foi divulgada na última semana em fato relevante da Wine. O negócio, de R$ 180 milhões, criou a segunda maior importadora de vinhos do País, com 9,1% de participação de mercado, à frente do Grupo Pão de Açúcar (7,1%) e a atrás apenas da VCP Brasil, subsidiária da chilena Concha Y Toro (9,8%).

Segundo Peterson Cantu, dono da importadora que leva seu sobrenome e que faturou R$ 200 milhões no ano passado, a venda ainda está em processo de aprovação pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). “Eu sempre tive a ideia de que era preciso fazer alianças para atuar em todos os canais de venda”, afirmou Cantu à DINHEIRO. “Ir para o digital não é fácil. Custa. E essa nova empresa, somando a experiência de cada um, pode ser a maior do Brasil”. A Cantu tem cerca de 11 mil clientes que revendem o que ela importa, caso dos vinhos da produtora argentina Suzana Balbo e da chilena Ventisquero. A Wine, por sua vez, tem crescido acima da média de mercado (confira no gráfico) apoiada em três canais: e-commerce, clube de assinaturas e uma rede de dez lojas próprias, a mais recente inagurada em Goiânia esta semana.

EVINO EMPRESAS Para Marcos Leal, cofundador do maior e-commerce do segmento na América Latina, conhecer o consumidor traz vantagens para atuar na venda off-line. (Crédito:Divulgação)

Após desistir do IPO que faria em 2020, a Wine, que tem parte de seu capital controlado pela Penísula Participações, de Abilio Diniz, optou por obter o registro de companhia de capital aberto junto à CVM. Com isso, seus porta-vozes, caso do CEO Marcelo D’Arienzo, devem cumprir um período de sigilo.

GÔNDOLAS A aquisição da Cantu não foi a única notícia recente a revelar mudanças no mercado de vinhos. A Evino, maior e-commerce da categoria na América Latina, anunciou a criação da unidade de negócios Evino Empresas, comandada por Marcos Leal e voltada a vender produtos de seu catálogo em gôndolas das redes Sam’s Club, Carrefour e Sonda. “Conhecemos os hábitos e desejos do consumidor de vinhos e podemos podemos atuar de forma precisa no mundo físico”, afirmou Leal.

Dias antes, a importadora Decanter, de Adolar Hermann, fechou um contrato com o Grupo Pão de Açúcar para fornecer 38 rótulos de seu catálogo para os canais de e-commerce e lojas físicas em São Paulo. “O objetivo é estender esse modelo para outras redes de varejo que tenham consonância com nosso portfólio”, disse o diretor comercial da Decanter, Thiago Torres. As mudanças beneficiam o consumidor, que poderá ter melhores ofertas de competidores ávidos por vender vinho.