A escolha do novo secretário da Receita Federal, Jorge Rachid, foi pragmática. Diante do risco de arrecadar este ano cerca de 10% a menos do que os R$ 220 bilhões obtidos em 2002, o PT decidiu pela saída mais segura: escolheu para o cargo um dos principais homens da equipe de Everardo Maciel. Rachid é tão duro quanto o antecessor, mas está longe de ser um clone. A principal diferença entre ambos é que Rachid mostra-se francamente a favor da reforma tributária, que Everardo não quis fazer. O novo titular do Leão pretende ser implacável com os sonegadores e contrabandistas. ?Temos de enfrentar de maneira incisiva a evasão fiscal?, costuma dizer Rachid. ?A sonegação é o câncer da economia.?

Carioca, 41 anos, jeito de galã, Rachid ingressou nos quadros da Receita em 1983 como auditor fiscal. Galgou vários postos até chegar à coordenação-geral da Fiscalização, onde esteve até o final do último ano. A ele respondiam diretamente todos os técnicos da Inteligência da Receita. Comandou operações importantes, como a apreensão de toneladas de cigarros contrabandeados ao Paraguai no início do ano passado. Nos corredores do Ministério da Fazenda, Rachid é conhecido pelo bom humor e pela extrema gentileza com que trata os subordinados. Isso facilitou a formação de sua equipe de trabalho. A maioria das pessoas ao seu redor o acompanha, em média, há dez anos. Reservado, aprendeu com Everardo a ouvir atentamente e falar pouco. ?Ninguém perde por ficar calado?, diz. Fiel a seus princípios, recusou-se a comentar a indicação antes de ser confirmado. ?É melhor conter a ansiedade.? Mesmo depois de o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, anunciar que ele seria o titular da Receita Federal, manteve-se em obsequioso silêncio, sob a justificativa de que precisava afinar o discurso com o novo chefe.

Rachid costuma passar de 10 a 12 horas no sétimo andar do prédio da Fazenda, onde funciona a sede da Receita. Na maioria das vezes, alimenta-se de lanches rápidos. Como denuncia o sobrenome, suas comidas preferidas passam pelo cardápio do Oriente Médio, com o quibe no topo da lista. Exigente, o secretário tem o hábito de falar com os assessores diretos várias vezes ao dia, por meio de telefones constantemente submetidos a varreduras antigrampos. Não é para menos. Ele faz questão de ler todos os imensos processos movidos contra acusados de fugir às obrigações com o Leão. Foi assim, por exemplo, com os casos da Transbrasil e dos seguidores do reverendo Moon. Ambos foram indiciados pela Procuradoria da Fazenda após receber sinal verde do sucessor de Everardo. A ligação com o antigo chefe é forte. Foi ele a primeira pessoa a quem Jorge Rachid pediu conselho sobre aceitar ou não o convite de Palocci. De Everardo, ouviu apenas incentivos. Na verdade, Everardo foi o principal cabo eleitoral de Rachid. Seu argumento: ele sabe arrecadar.