As expectativas dos investidores expressas no Relatório Focus, publicação semanal do Banco Central (BC) não negam. Os prognósticos são de que a taxa referencial de juros Selic, atualmente em 4,25% ao ano, continue subindo e chegue até 6,50% em dezembro. Para o início de 2022, se nada diferente do previsto ocorrer, os juros podem dar mais uma esticada e chegar a 6,75% ao ano. Com isso, os investimentos em renda fixa, que durante os últimos meses provocaram perdas no bolso do investidor, estão voltando a brilhar, e esse fulgor deve ficar mais intenso nos próximos meses.

O movimento previsto dos juros é uma volta à normalidade. Comparados com os do mercado internacional, as taxas brasileiras já estão em um patamar altíssimo. Nas maiores economias do mundo, os juros referenciais dos bancos centrais estão a zero, ou até mesmo negativos em termos nominais. No caso do Brasil, é uma volta a um “novo normal” que só se instalou a partir de 2017. Antes disso, a Selic permanecia estática em um patamar de dois dígitos, o que garantia uma vida muito sossegada aos investidores brasileiros. A queda a 2% ao ano e a inéditos juros reais negativos provocou um terremoto nas aplicações financeiras. Agora, esse movimento deve começar a retroceder.

Os velhos tempos não vão voltar. “A Selic não vai retornar aos dois dígitos, mas deve se estabilizar ao redor de 7% ao ano”, disse o economista-chefe da empresa de gestão de recursos Infinity, Jason Vieira. Mesmo assim, o cenário de pressão de alta na inflação deverá levar a uma ação mais firme por parte do BC, o que garante a permanência dessas taxas por um longo período e deve estimular os investidores a realocar seus portfólios.

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“A nova forma de cálculo dos juros permite que o investidor negocie a rentabilidade de sua aplicação com clareza” Paulo Fróes, da SRM Asset.

TRANSPARÊNCIA Os juros passaram a perder para a inflação no início de 2020. Nesses 18 meses o mercado mudou sua forma de trabalhar. Segundo o executivo da empresa de gestão de recursos SRM, Paulo Fróes, até 2018 os bancos ofereciam as aplicações financeiras à freguesia pensando em percentuais dos juros de mercado, calculados pela taxa dos Certificados de Depósito Interfinanceiro (CDI). Essa taxa caminha lado a lado com a Selic, e as diferenças entre ambas só são relevantes para quem trabalha em tesouraria de banco. “Depois da queda dos juros, o mercado passou a calcular a rentabilidade dos produtos incluindo um prêmio acima do CDI”, disse ele. “Essa prática deve continuar.” Segundo Fróes, essa mudança aparentemente simples revolucionou o mercado. Ao estabelecer um prêmio “explícito”, a nova forma de cálculo tornou transparente o risco atribuído pelo mercado a cada emissor de títulos. “Isso permite que o investidor negocie a rentabilidade de sua aplicação com clareza”, disse ele.

O mesmo raciocínio vale para os papéis corrigidos pela inflação. Os mais comuns são os títulos públicos das diversas séries do Tesouro IPCA, vendidos no Tesouro Direto. Todos eles pagam a remuneração da inflação mais um prêmio de juros, conhecido como cupom. Com a queda dos juros, a praxe é que títulos privados mais longos, como Certificados de Depósito Bancário (CDB), Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) e do Agronegócio (CRA) e outros temperos da sopa de letrinhas do mercado financeiro também continuem seguindo esse método. “E mesmo que a inflação oscile, o prêmio de risco acima da variação de preços não deve se alterar muito”, disse Fróes.

Onde investir? Mais do que nunca, o investidor terá de saber que seu dinheiro tem valor, então é bom cobrar mais para deixá-lo aplicado por períodos longos. “As empresas estão pagando caro pelo dinheiro, e à medida que os juros se elevam, o prêmio pago nos títulos de renda fixa também poderá subir um pouco”, disse o sócio da empresa de assessoria Aplix Investimentos, Yuri Cavalcante. Segundo ele, o movimento de elevação dos juros e dos prêmios não se encerrará em 2021, mas deve perdurar por 2022. Por isso, sua recomendação para quem tem dinheiro para investir é não ter pressa e evitar a ganância. “A melhor estratégia é fazer uma aplicação gradual, em fases, para capturar todo o movimento de alta das taxas”, disse ele.