As criptomoedas movimentam o equivalente a R$ 55 bilhões por dia no mundo. No Brasil, o volume diário é pequeno, na casa dos R$ 53 milhões. Porém, o mercado brasileiro está atraindo participantes com perfil tradicional. São profissionais do mercado financeiro, ou investidores qualificados, com mais de R$ 1 milhão para aplicar, em busca de diversificação. Na Mercado Bitcoin, uma das mais antigas bolsas de criptomoedas, fundada em 2013, eles respondem por metade dos R$ 7 milhões negociados por dia. “Eles fazem operações de curto prazo, buscando lucrar com a volatilidade”, diz Rodrigo Batista, presidente da bolsa. De olho nesse filão, as bolsas de criptomoedas estão montando mesas de operação semelhantes as dos bancos, para atender os clientes de alta renda.

Juntas, as duas maiores bolsas do País, Mercado Bitcoin e FoxBit, têm 1,4 milhão de clientes cadastrados, mais que o dobro dos 619 mil participantes da B3. O interesse vai além do Bitcoin. “Há bastante procura pelo Ethereum, moeda cuja tecnologia permite o fechamento de contratos pela rede blockchain”, diz Batista. Sua mesa está sob o comando de André Oda, professor de finanças da USP e veterano de mercado. Sua meta é triplicar a operação até junho, contratando mais dez pessoas. “Vamos reproduzir as boas práticas do mercado financeiro tradicional e fornecer informações organizadas e claras para os clientes”, diz Oda.

As oportunidades são amplas. Há cerca de 1,4 mil criptomoedas em circulação e suas cotações podem variar mais de 1.000% em um mês. A dura tarefa dos operadores é orientar clientes nesse universo de extrema volatilidade. “O objetivo é explicar a dinâmica desse mercado”, diz Guilherme Rebane, à frente da recém-criada mesa de alta renda da Foxbit. Ex-operador do BTG Pactual e com duas décadas de mercado financeiro, Rebane dirige uma equipe de quatro pessoas. “Temos dois ex-gerentes de banco no time”, diz ele. Parte do trabalho é explicar aos investidores sobre os riscos do negócio, tanto de mercado quanto na guarda dos ativos. Esse movimento não é exclusividade do Brasil. O banco de investimentos suíço Falcon Private Bank lançou, em julho passado, serviços para investidores em criptomoedas.

Os especialistas avaliam que os movimentos recentes mostram que os negócios com criptomoedas estão se tornando mais parecidos com os dos mercados tradicionais. “Essa mudança faz parte do processo de amadurecimento”, diz Fernando Ulrich, especialista em criptomoedas da XP Investimentos. “No longo prazo, as transações com criptomoedas vão estar cada vez mais integradas ao sistema financeiro.”