Dez anos de pesquisa. Mais de US$ 100 milhões em investimentos. Trinta e cinco técnicos brasileiros em constante sintonia com cientistas da cidade de Lyon, na França. Equipamentos de última geração, planilhas, cálculos, fórmulas químicas. Durante a última década, executivos e engenheiros da Rhodia Têxtil, no Brasil e na França, se debruçaram sobre um ambicioso projeto e chegaram a um resultado surpreendente: a empresa conseguiu entrar no ?DNA? do náilon. Mais precisamente nos microscópicos filamentos que formam um único fio do tecido. Em outras palavras, alcançou a origem, a matéria-prima. O resultado prático desta conquista é que a partir de agora a empresa poderá usar uma série de compostos químicos para agregar valor ao tecido. ?Chegou a era das roupas inteligentes?, afirma Mário Lindenhayn, vice-presidente da Rhodia Têxtil.

Dois exemplos desta ?evolução? puderam ser vistos nos
desfiles da estilista Glória
Coelho durante a última São
Paulo Fashion Week. Eram
roupas futuristas, com atributos dignos dos filmes de ficção científica. Algumas evitam a proliferação de bactérias no organismo, outras protegem contra os raios solares. A Rhodia batizou os produtos de Biotech e UV. O primeiro contém aditivos antibactérias (bacteriostáticos) e o segundo, filtros solares.

Fora das passarelas, as peças da Rhodia já podem ser encontradas em lojas sofisticadas como as de Glória Coelho e Fause Haten; em casas de esporte, com etiquetas da Mizuno, Kappa, Benneton e Track&Field e nas grifes de moda praia como a Rosa Chá. Essa é apenas a primeira leva de novidades high-tech. Em alguns anos, prometem os executivos da companhia, dezenas de fios inteligentes sairão de seus laboratórios para compor criações futuristas da indústria. Blusas com hidratante? Sim. Jaquetas térmicas? Também. Tem mais: roupas que mudam de cor, de acordo com a temperatura. ?Só há um problema. Algumas revoluções, como as roupas que mudam de cor, necessitam do auxílio de uma ciência conhecida como nanotecnologia (miniaturização de processos físico-químicos), que nos dias de hoje é tecnicamente improvável e economicamente inviável?, diz Leandro Fraga, da Nous Consulting. ?Nosso projeto é de longo prazo. Os tecidos inteligentes vão conquistar efetivamente os consumidores daqui a 10 ou quinze anos?, explica Lindenhayn. ?A vantagem é que saímos à frente ao colocar no mercado a Biotech e UV.?

E quanto ao preço da roupa do futuro? ?No começo, pode ficar um pouco salgado. Mas a tendência é de queda. A diferença entre o custo do quilo do fio padrão e do fio inteligente não chega a 10% e este aumento deverá ser diluído ao longo da cadeia têxtil até chegar ao consumidor final?, explica Padeiro. A empresa acertou em cheio ao apostar na evolução das fibras sintéticas como o náilon. Dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção mostram que os sintéticos representam 40% do consumo têxtil no País. Ou algo como US$ 9 bilhões anuais.