O executivo italiano Andrea Orcel, de 55 anos, acredita em relacionamentos de longo prazo. Cortejou Clara Batalim-Orcel por 16 anos até convencer a decoradora de interiores portuguesa de que era um bom partido. Casaram-se em 2009, tiveram uma filha e estão juntos até hoje. A persistência vale também para o lado profissional. Durante duas décadas, quando trabalhava no banco de investimentos americano Merrill Lynch, Orcel foi o principal assessor do banqueiro Emilio Botín na hora de comprar outros bancos. A onda de aquisições transformou a instituição da família.

Antes um banco regional fundado na sonolenta cidade de Santander, no norte da Espanha, a empresa dos Botín tornou-se o maior conglomerado financeiro da zona do Euro, com um valor de mercado de € 72 bilhões (R$ 340 bilhões). Apenas no Brasil foram cinco compras, como a do Banespa no ano 2000, e uma fusão com o ABN Amro em 2008. No fim do primeiro semestre, a subsidiária do banco por aqui divulgou polpudos R$ 739 bilhões em ativos e uma carteira de crédito de R$ 290 bilhões, que colocam-no na terceira posição entre as instituições privadas, perdendo apenas para Itaú Unibanco e Bradesco.

Agora, Orcel terá a oportunidade de usar o conhecimento adquirido na convivência com os Botín em uma posição de comando. Na terça-feira 25, Ana Patricia Botín, filha de Emílio e presidente do Conselho desde 2014, nomeou Orcel para a presidência do banco. O executivo estava na presidência do banco de investimento suíço UBS e substituirá José Antonio Alvarez, que vai comandar a divisão do Santander na Espanha. “O setor financeiro vem sofrendo mudanças em sua maneira de fazer negócios e em sua cultura, e as organizações vencedoras são aquelas que abraçam essas mudanças”, afirmou Orcel no comunicado que noticiou as alterações na cúpula do Santander.

Eduardo Nishio, analista-chefe da Brasil plural: “O Santander Brasil tem feito um ótimo trabalho em emprestar com mais eficiência.”

A vinda de Orcel representa uma potencial guinada na estratégia do Santander. Emílio foi um comprador compulsivo. Ana Patrícia é uma executiva dedicada a melhorar resultados. “Quero que o Santander seja visto como um banco comercial clássico: previsível e rentável”, disse ela, em 2016, em uma de suas raras entrevistas, concedida à revista inglesa The Banker. O mercado não gostou. Apesar de o Santander ter atravessado relativamente incólume a crise do subprime, as ações do banco no Exterior recuaram 12% nos quatro anos de sua gestão e estão sendo negociadas abaixo do valor patrimonial. Por isso, a meta da executiva é melhorar a percepção dos investidores, voltando às compras.

Ana Botín tem dito que as ações do Santander deveriam valer o triplo dos € 4,48,
ou R$ 21,23, que estão valendo na Bolsa de Madri. Para comparar, na quarta-feira 26, as units do Santander Brasil fecharam a R$ 35,68. “O Santander Brasil tem feito um ótimo trabalho em emprestar com mais eficiência e reduzir a inadimplência, além de cortar custos”, diz Eduardo Nishio, analista-chefe do banco de investimentos Brasil Plural. “O bom trabalho fez com que a rentabilidade patrimonial, que estava ao redor de 10% ao ano, chegasse aos 18%, em linha com os outros grandes bancos privados.” Não por acaso, as units do Santander Brasil subiram 162% desde 2015.

Agora, a expectativa dos analistas internacionais é que Orcel use a experiência em cortar custos adquirida no UBS para melhorar os resultados. Seu estilo, marcado por jornadas que vão das 5h da manhã à meia-noite e por uma cobrança intensa por resultados, deverá sacudir um pouco o torpor do banco na Europa. Além disso, o executivo deve aproveitar os relacionamentos construídos na Merrill Lynch para ampliar a presença do Santander nos Estados Unidos, onde uma restrição a aquisições imposta pelas autoridades vai expirar no ano que vem. Com o italiano à frente, o banco dos Botín deve voltar às compras.