O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, está prestes a sofrer um constrangimento inédito, desde a implantação do regime de metas de inflação no País, em 1999. Ele terá de explicar publicamente ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, por que não cumpriu o alvo de 4,5% traçado pelo Comitê de Política Monetária para 2006. O curioso é que Meirelles errou para menos, pois a taxa de inflação deste ano deverá ser próxima a 3%. E essa, que seria uma boa notícia, não vem sendo encarada com bons olhos por Mantega. Isso porque o crescimento do PIB, antes estimado em 4% para 2006, também foi rebaixado para 3,5%. A causa seria um equívoco na política monetária, que conteve os preços mas também esfriou a economia. ?Ficou claro que houve um erro de dosagem nos juros?, ataca uma fonte da Fazenda. De acordo com a lei que rege a relação entre os dois órgãos públicos, caso se confirme uma inflação abaixo do piso mínimo, o presidente do BC é obrigado a enviar uma carta aberta ao ministro da Fazenda. E ninguém esconde que Mantega está ansioso para conhecer os termos da carta de Meirelles ? principalmente porque o erro aconteceu no ano da reeleição de Lula.

Esse novo episódio azedou ainda mais a relação entre as duas principais autoridades econômicas do PIB. Mantega recebeu a notícia de revisão do PIB para baixo como uma punhalada nas costas. Embora tenha dito publicamente que bancos centrais são sempre conservadores, ele criticou muito a postura de Meirelles, em ocasiões reservadas. E achou inadmissível o Banco Central jogar para baixo a previsão de crescimento do PIB às vésperas do primeiro turno das eleições. Também foi negativa a reação no Palácio do Planalto. Do ponto de vista eleitoral, considerou-se inoportuna a divulgação de uma taxa de crescimento mais baixa antes da eleição. Além disso, na mesma semana, Meirelles recebeu os senadores Tasso Jereissati (PSDB-CE) e Heráclito Fortes (PFL-PI) e informou-lhes que não havia recebido pedido da Polícia Federal para investigar a origem do dinheiro usado na compra do dossiê contra os tucanos ? o que também irritou o presidente Lula. No Planalto, ainda não se faz propriamente carga contra Henrique Meirelles. Fontes do círculo íntimo do presidente explicam que o governo não pretende esconder dados negativos da economia ? tanto assim que anunciou o corte de R$ 1,6 bilhão no orçamento. Mas afirmam que faltou ao presidente do BC sensibilidade política. ?Não se espera que Meirelles, de perfil técnico, ajude na campanha de reeleição, mas, pelo menos, que não atrapalhe?, disse uma fonte próxima a Lula.