Empresas e governos em todo o mundo gastaram há quatro anos centenas de milhões de dólares para atualizar os softwares dos computadores, com medo que as máquinas entrassem em parafuso na virada de 1999 para 2000. O possível desastre tecnológico, conhecido como Bug do Milênio, não aconteceu, mas a expressão entrou no dicionário do mundo corporativo. Agora, um novo bug bate à porta e abre oportunidades de negócios para empresas de vários setores da indústria de tecnologia. O protocolo de comunicação que garante o bom funcionamento da internet emite sinais de cansaço. Criado há quase 30 anos, o Protocolo Internet gera endereços no mundo virtual formados por uma seqüência numérica que na tela aparece como nomes de fantasia. É essa capacidade do IP de continuar liberando novos endereços que está ameaçada nos próximos anos.

Cada país tem uma cota definida pelas instituições internacionais que administram a rede no mundo. Em alguns lugares, principalmente onde há uma maior penetração da internet, a reserva de endereços chegou ao ponto crítico. Há quem acredite que o esgotamento pode acontecer dentro de alguns anos porque a demanda cresce a cada dia, em função da necessidade de endereços por países como a China e a transformação de itens como aparelhos de celular e até eletrodomésticos em pontos de acesso à rede. O caminho é fazer a atualização das redes de PCs utilizando um novo padrão conhecido como IPv6. ?Estamos diante de um novo bug?, diz Robson Oliveira, sócio da consultoria voltada para atender clientes interessados em sair do atual estágio.

O IPv6 é necessário para quem deseja mudar o patamar tecnológico na internet e abrir uma janela de oportunidades de negócios. Há quem acredite no nascimento da segunda época dourada da rede. Só o governo dos Estados Unidos gastará nos próximos quatro anos cerca de US$ 30 bilhões para adequar os computadores dos seus empregados a essa nova realidade. No mundo corporativo, uma empresa precisará investir em média R$ 1 mil por funcionário. Está bem claro quem ganhará com a mudança. Serão as companhias como Cisco, que já contam com produtos voltados para o novo protocolo, apostando na internet multimídia, onde será possível assistir televisão de alta definição, ouvir músicas com uma qualidade de som acima da média e telefonar sem usar a linha doméstica. Nesse cenário empresas como a finlandesa Skype, dona do software para ligações telefônicas pela internet, estão na linha de frente. Ao contrário do que acontece hoje, quando a voz dos envolvidos na conversa fica com aquele som metálico, o IPv6 permite um som mais claro. ?A curto prazo, a situação não mudará drasticamente, mas o IPv6 prevalecerá?, afirma Silvio Meira, cientista-chefe do Centro de Estudos Avançados do Recife, uma organização não-governamental de tecnologia ligada à Universidade Federal de Pernambuco.