Um casamento consagrado no mercado financeiro chegou ao fim. Está se desfazendo o grupo carioca Multistock, famoso por ser presidido pelo presidente da Bolsa de Mercadorias e Futuros. Após três anos, Manoel Felix Cintra Neto, avisou seus sócios cariocas do Grupo Multistock que a sociedade estava terminada e que deixaria o comando do banco. Na semana passada, os seis sócios se dividiram em dois times. Manoel e outro sócio levam a financeira e a securitizadora. Saul Sabbá _ que presidia a administradora de recursos_ e os outros sócios, ficam com a corretora, com o banco e com a administradora. O novo endereço de Manoel será em outro banco, desta vez paulista. Ele deixará de ser minoritário para tornar-se um dos principais sócios e presidente do banco Indusval.

A proximidade com o Indusval foi um dos motivos que levaram o presidente da BM & F a pensar na separação com o grupo. As conversas avançaram quando Manoel passou a ter divergências com os outros sócios na hora de decidir o rumo do Multistock. Alguns executivos apostavam que a instituição deveria ser voltada para administração de recursos e operações de tesouraria. Manoel
acredita que o futuro do banco está no financiamento direto ao consumidor. A diferença de opinião foi o que motivou a separação.
?O banco era pequeno demais para se lançar nos dois nichos de mercado?, diz um dos sócios.

Assim, cada sócio toma seu próprio rumo. Manoel e o fundador do banco Stock, Antonio da Rocha, assumem a financeira com 50%. A outra metade já pertencia ao Banco Indusval há três anos. A financeira apresentou o melhor resultado em relação aos outros negócios do grupo no ano passado. O
lucro chegou a R$ 6,6 milhões. ?Mas a inadimplência está em 12% o que é considerado muito alto?, diz Joel Sant?Ana, da consultoria RiskBank. ?O resultado positivo mostra que os juros tiveram de ser elevados para cobrir a inadimplência.? Os negócios de Manoel, no entanto, vão além da financeira. Ele vai aumentar o capital do banco e
investir R$ 30 milhões. Com isso a instituição terá um patrimônio de R$ 60 milhões.
Com o dobro do tamanho, o banco deve ampliar suas atividades de crédito e tesouraria.

Já o banco de Saul Sabbá, acionista majoritário e novo
presidente, vai concentrar esforços na administradora, que tem
R$ 700 milhões em recursos de terceiros. Para isso ele acaba de transferir todos os clientes da corretora Multistock para a concorrente Ágora. Em troca, terá acesso ‘a base de clientes da corretora para a venda de fundos de investimentos. No ano passado, a corretora teve prejuízo de R$ 3,5 milhões e deverá continuar existindo apenas como ponto de venda para os fundos. Para o mercado, o banco pode crescer como uma instituição especializada. ?Eles vêm atuando no mercado de ações com sucesso?, diz Francisco Correa da Costa, sócio da Gap Asset Management.

O banco ganhou fama, sobretudo no Rio de Janeiro, quando a corretora Stock Máxima fundiu-se ‘a concorrente Multiplic do presidente da BM&F, no final de 1999. Com a fusão, nasceu o
banco Multistock. Na época, Manoel vendeu sua financeira
Losango para o banco Lloyds e entrou com 15% de participação no grupo. Pelas contas do mercado, ele investiu, no mínimo, R$ 5 milhões. Desde então, o patrimônio do banco cresceu de R$ 26 milhões para quase R$ 60 milhões. ?Fomos bem-sucedidos?, diz um dos sócios. ?Mas acabou?. Como todo fim de casamento, Manoel e Saul apostam no seu novo negócio. Mas, desta vez, um em São Paulo e outro no Rio.