Quem cresceu nos anos 70 e 80, certamente se lembra da voz grave que, no início dos filmes dublados para TV, anunciava: “Versão brasileira, BKS”. A BKS (Bodhan Kostiw Studios), empresa brasileira criada nos anos 50, é a maior fornecedora de dublagens e legendagens do País, com escritórios em São Paulo, Miami e em Chennai, na Índia. Em setembro, no entanto, ela entra no mercado de streaming e lança o Kinopop, serviço que chega para competir com os players atuais (Netflix, Globoplay e Amazon) e aguardar os que chegarão em breve (HBO Plus, Disney Plus e Apple TV).

Há, porém, uma diferença fundamental. O Kinopop mira as classes C e D — e promete o serviço mais barato do mercado. Segundo a pesquisa Digital Brazil 2019, 70,3% dos brasileiros estão conectados à Internet, o que equivale a 149 milhões de pessoas. Mas só 7% (10,5 milhões) acessam serviços de streaming por assinatura.

“No Brasil, apenas uma parcela muito pequena da população tem acesso a cartão de crédito e todos os serviços que entram no mercado disputam a mesma faixa A e B, que tem poder de consumo”, explica Jake Neto, vice-presidente global de vendas e licenciamento da BKS. “O nosso serviço vai trabalhar com microcrédito e o objetivo é ter um serviço com qualidade Netflix para uma base C e D”.

Embora Neto não possa detalhar ainda o sistema de pagamentos que está sendo desenvolvido, o preço do serviço já está definido: R$ 15 por mês. É barato, mas não exatamente uma novidade. A Amazon Prime custa R$ 14,99, valor que cai para R$ 7,90 nos seis primeiros meses. Neto explica que os modelos de negócios são diferentes. “A operação de Prime Video da Amazon é um benefício para quem é cliente premium no varejo”, diz. “Além disso, eles têm vários conteúdos que são vendidos a la carte. O Kinopop, ao contrário, não tem venda adicional.”

Na verdade, o maior concorrente que o novo serviço vai enfrentar são as famosas “caixinhas” IPTV (Internet Protocol Television), um dispositivo fabricado na China que desbloqueia os sinais de TV por assinatura. O aparelho é vendido abertamente pela internet a um preço que varia de R$ 100 a R$ 200. Também é possível comprar assinaturas piratas via IPTV por algo em torno de R$ 10. A ABTA (Associação Brasileira de TVs por Assinatura) estima um prejuízo anual de R$ 9 bilhões por conta do chamado “gatonet”. Em 2018, a Receita Federal apreendeu 30 mil dessas pirateadoras de sinal.

“Esse foi um paliativo para uma classe C e D que não tinha acesso ao cabo”, avalia Jake. “Acredito que uma solução tecnológica vai acabar derrubando esse tipo de serviço. Mas o que vai mudar drasticamente nos próximos dois anos são os canais lineares, que tendem a morrer. Já no ano que vem, com a chegada de novos players, o cenário muda drasticamente.”

Canais lineares são aqueles que apresentam uma grade de programação com horários fixos para atrações – com faz a TV Globo, por exemplo. Esse modelo tende mesmo a ser engolido pelo streaming, no qual o usuário escolhe o que ver e quando ver.

Para a estreia em setembro, o Kinopop já tem mil conteúdos licenciados. A maioria é de séries e filmes dublados, mas o serviço também pretende disponibilizar shows de TV e programas jornalísticos. Outros 800 conteúdos já estão negociados para chegar à plataforma em outubro. Entre eles, estão 27 filmes de “Os Trapalhões”, dos anos 70, produzidos pela Renato Aragão Produções. O Kinopop virá embutido nas TVs Sansung e também em forma de apps para Android, Apple TV, Roku TV, Google Play Store e via browser nos computadores desktop.