Fundos Multimercados

Em retrospecto, 2017 será classificado pelos historiadores da economia como o ano de reversão das expectativas. Dois números comprovam essa tese. Em janeiro, as projeções eram de uma inflação de 4,87%, acima da meta, e de um Produto Interno Bruto (PIB) de exânimes 0,5%. Doze meses depois, a inflação prevista havia recuado para 2,83% e a projeção de crescimento subiu para perto de 1%. Não foi um caminho linear, porém.

Ao contrário. Além das incertezas econômicas, a indefinição política colocou em xeque, por duas vezes, o mandato do presidente Michel Temer. Tudo isso provocou fortes sobressaltos no mercado, abrindo espaço para os gestores de fundos multimercados, que se especializam em arbitrar as distorções de preço.

Foi o caso do fundo BB Macro 200, da categoria Multimercado Macro e gerido pela BB DTVM, empresa de gestão de recursos do Banco do Brasil. O fundo rendeu 14,3% nos 12 meses até 30 de novembro, e obteve essa rentabilidade oferecendo a melhor relação entre risco e retorno da categoria, medida pelo índice de Sharpe. Marcelo Pacheco, gerente-executivo responsável pelos fundos multimercados, diz que a estratégia no ano foi aproveitar momentos de estresse no mercado para ganhar com preços distorcidos. Um bom exemplo ocorreu em meados do ano, com o vazamento das gravações das conversas do presidente Michel Temer com o empresário Joesley Batista. Momento de tensão, que obrigou a Bolsa a interromper as negociações e elevou o dólar em quase 9% em um único dia, o solavanco gerou lucros para o fundo. “Estávamos confiantes em relação às contas externas brasileiras, por isso, em momentos de tensão, apostávamos na baixa do dólar”, diz Pacheco. A turbulência também inflou os juros no mercado futuro, permitindo aos gestores apostar em um movimento contrário. Tudo isso mantendo os riscos rigorosamente sob controle. “Nosso fundo é voltado para investidores com perfil relativamente conservador, e por isso a gestão procura controlar a volatilidade”, diz ele.

Segundo Pacheco, 2018 deverá ser um ano desafiador devido ao cenário eleitoral. “O Brasil sofre com um problema fiscal sério que, se não for resolvido logo, vai ficar nas mãos do próximo presidente”, diz ele. “Resta saber quem será o eleito e qual seu compromisso em equacionar a questão fiscal.” Para enfrentar essa turbulência, Pacheco diz que os gestores do fundo vão adotar uma estratégia dupla. Para posições de curto prazo, juros e dólar deverão mostrar menos volatilidade, devido ao cenário benigno da inflação e à abundância de reservas. Já as posições mais longas deverão ser, proporcionalmente, muito mais voláteis. “Há um prêmio importante a ser capturado nas curvas de juros para 2021 e 2022”, diz ele.

Também há prêmios significativos no mercado de crédito. O fundo Ouro Preto FIC, da categoria Multimercado Livre, gerido pela casa independente Ouro Preto apresentou o melhor desempenho do ano. “Nossa estratégia é investir em títulos de renda fixa e cotas de fundos de direitos creditórios que estruturamos”, diz João Peixoto, sócio da empresa. Em 2017, os gestores se aproveitaram dos bons prêmios pagos pelas empresas que precisavam de capital, algo que deve prosseguir em 2018. “Apesar de a Selic estar em queda, as taxas para os tomadores de crédito vêm caindo bem mais devagar”, diz Peixoto.

Rafael Zlot, sócio responsável por crédito privado da gestora de recursos da Brasil Plural, tem uma avaliação semelhante. O fundo Brasil Corporate, da categoria Multimercados Juros e Moedas, dedica-se a papéis de empresas privadas. A estratégia é evitar a volatilidade, comprando e vendendo títulos quando há distorção de preços. “Somos muito ativos no mercado secundário”, diz ele. Zlot diz estar otimista com as perspectivas para 2018. A queda dos juros, avalia, deverá estimular as empresas a emitir dívidas, o que aumentará as alternativas de investimento à disposição dos gestores. “O prêmio pago nas operações de crédito vai continuar sendo atrativo”, diz ele.

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