Duas lembranças do Brasil não saem da cabeça de Alain Vuarnet, presidente da tradicional grife de óculos e roupas que leva seu sobrenome. Uma é a voz poderosa do puxador de samba Jamelão, que conheceu durante um show em um bar carioca. A outra é o visual dos estandes da marca em 140 pontos-de-venda. ?Entre todos os países onde operamos, o Brasil é o que conseguiu exprimir melhor nossas características?, disse Vuarnet à DINHEIRO. ?Mistura elegância e despojamento.? No fim da primeira visita, em meados de janeiro, o empresário francês decidiu: voltará ao País pelo menos uma vez por ano. ?Vou me inspirar com as criações da operação brasileira?, diz Vuarnet. A grife aportou oficialmente no País há três anos e uma coisa sempre intrigou o dono da marca: qual a receita dos executivos daqui para ter tanto sucesso? Fecharam 2002 com receitas de US$ 1 milhão ? ou 2% do faturamento total da grife ? e expectativa de crescer 25% ao ano até 2007. Vuarnet tem certeza que descobriu o segredo. Como seus produtos são vendidos em lojas multimarcas, ele acredita que os estandes usados aqui ajudam a valorizar as peças em meio às outras grifes. Agora, sonha em exportar essa ?forma de fazer loja?. ?O primeiro a ganhar o toque brasileiro será os Estados Unidos?, diz Antonio Monteiro, representante da marca no Brasil.

Como Alain Vuarnet, muitos empresários vem para cá atrás de um modelo para incrementar seus lucros. ?O brasileiro tem uma vocação natural para a inovação. Ele é criativo para driblar as necessidades pessoais. Acaba levando essa característica para a empresa?, afirma Markus Striker, vice-presidente da A.T. Kearney. ?Isso é raro em outros países.? Alrik Danielson, presidente da fabricante de rolamentos SKF no Brasil, que o diga. Em março, ele terá de se apresentar à matriz, na Suécia, para explicar uma invenção que já foi copiada pelas subsidiárias do grupo na Espanha, na Itália e na França. É um programa que transfere a responsabilidade pela assistência técnica para os revendedores. ?Em vez de só fornecer peças, eles ajudam o cliente a evitar problemas com as máquinas e aumentar em até 30% sua capacidade de produção?, diz Danielson. Pelo visto, os clientes gostaram da idéia: a área de prestação de serviços da empresa cresceu 65% em 2002. ?Aqui temos os ingredientes ideais para inovar, criatividade, seriedade e coragem para mudar?, afirma o executivo.

Essa receita é bem conhecida pelas filiais do McDonald?s e da Siemens no País. Ganhou o mundo, por exemplo, um produto criado aqui pela alemã Siemens e que reduz em 30% os custos de manutenção das redes de telefonia fixa. São aquelas caixinhas que guardam os fios que ligam a casa do assinante à rede central da operadora. Hoje, essas caixinhas estão em cada esquina do País. ?Somos o centro mundial desta tecnologia?, diz Eduardo Arioli, gerente de desenvolvimento da Siemens.

Na maior rede de fast-food do mundo, os exemplos exportados da filial brasileira são muitos. Curitiba foi a primeira cidade do mundo a ter um quiosque exclusivo de sobremesas do McDonald?s. Hoje, eles estão em 13 países. Mas não são só os produtos que chamam a atenção dos executivos internacionais. ?Eles querem entender como é o nosso funcionamento: como as lojas são tão limpas, como atendemos tão rápido?, afirma Célia Teizen, diretora de treinamento da rede. A última criação que tem atiçado a curiosidade lá fora é um programa para personalizar o atendimento aos clientes. Em vez de dizer apenas o tradicional ?Qual é o seu pedido??, o caixa pode gastar alguns segundos a mais com aqueles clientes que estão a fim de conversar. ?Nos primeiros testes, esse programa aumentou a freqüência às lojas?, afirma. Em breve, aportará aqui uma comissão para conhecer a fundo essa novidade. Sim, é o Brasil provando que não exporta apenas bananas.