O executivo franco-marroquino Maurice Lévy, 67 anos, é um expansionista. Sob seu comando, o Publicis deixou de ser uma agência de publicidade francesa para tornar-se o terceiro maior grupo de publicidade do mundo. 

O apetite de Lévy, cujos conselhos são ouvidos com atenção tanto pelo presidente francês, Nicolas Sarkozy, quanto pela bilionária Liliane Bettencourt, herdeira da L’Oréal,  rendeu ao CEO do Publicis o apelido de “Napoleão da publicidade”. Mas como todo imperador, Lévy também tem oponentes. 

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O mais ferrenho é Martin Sorrell, CEO do britânico WPP, líder mundial da publicidade. O embate entre Sorrell e Lévy vem de longa data – em 2009, em um programa ao vivo da BBC, Sorrel chamou Lévy de “francês amador” e o que deveria ser um debate sobre publicidade virou uma discussão sobre quem comandava o maior grupo. 

 

Caso raro na biografia dos dois inimigos. O mais comum é eles se digladiarem nos bastidores, como foram as negociações envolvendo a compra da Talent – cobiçada agência de publicidade brasileira.  As negociações começaram há um ano, quando Júlio Ribeiro, sócio majoritário da Talent, resolveu abrir espaço para um parceiro internacional. 

 

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O líder: Martin Sorrell, CEO do WPP, saiu da negociação quando o preço subiu demais 

 

O Publicis se candidatou e o WPP não demorou a dizer que também estava interessado. Assim tem sido. Todas as vezes em que um anuncia interesse em comprar uma empresa, o outro não tarda a entrar no páreo. 

 

Pelo menos desta vez, Lévy levou a melhor e, na noite da segunda-feira 5, depois de oito meses de negociações, finalmente assinou a compra de 49% das ações da Talent. “O que faz a diferença é a nossa postura.  Quando compramos uma empresa, não chegamos com a arrogância dos conquistadores”, disse Lévy em entrevista exclusiva à DINHEIRO. O grupo, que dispõe de 3,5 bilhões de euros para aquisições, pagou R$ 185,3 milhões por parte da Talent. Segundo um alto executivo do WPP, o valor elevado fez com que o grupo britânico saísse do páreo. 

 

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Noiva cobiçada: Júlio Ribeiro, da Talent, recebeu e-mail de felicitações de Sorrell depois de fechar negócio com os franceses

 

Lévy disse que, no primeiro momento, não se envolveu diretamente nas negociações e que só encontrou Júlio Ribeiro pessoalmente em abril, quando o publicitário brasileiro foi a Paris e passou um dia inteiro no número 133 da Champs Elysées, sede da companhia, discutindo com ele e com Richard Pinder, o segundo na hierarquia do Publicis, os detalhes finais da negociação.  

 

“Maurice é encantador, inteligente e te oferece uma conversa de altíssimo nível”, afirma Ribeiro, sem esquecer de dizer que, um dia depois de firmar negócio com o Publicis, recebeu um e-mail de felicitações assinado por Martin Sorrell. 

 

Para o Publicis, a compra da Talent é um gol e tanto no mercado brasileiro – um dos que mais crescem no mundo também na publicidade. Em termos de receita, a agência de Ribeiro também vai dar um reforço considerável. 

 

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No ano passado, a receita da Talent somou R$ 1 bilhão e o crescimento esperado para este ano é de 25%.”Temos clientes globais e não poderíamos continuar restritos ao mercado brasileiro”, diz Ribeiro, explicando o que o levou a finalmente aceitar um sócio estrangeiro. 

 

“Ninguém pode dizer que somos oportunistas pelo momento vivido pelo Brasil. Estamos no País há mais de duas décadas”, afirma Lévy. Segundo ele, a Talent continuará  independente. “Seria um contrassenso colocar a Talent sob qualquer outra agência do grupo no Brasil. E se você me perguntar quais são os planos para a Talent eu direi para falar com o Júlio”, diz Lévy.

 

E as aquisições não param por aí. “Numa economia global você tem que conquistar posições estratégicas de forma rápida. Daí nosso apetite por aquisições em diferentes partes do mundo, seja para atrapalhar nossos concorrentes, seja pela necessidade dos nossos clientes.” É assim que o Napoleão da publicidade resumesua estratégia expansionista.