Em agosto passado a Embraer completou meio século. Fundada em 1969, a empresa atravessou governos, disrupções tecnológicas, novos modelos de negócios e chegou aos 50 anos com a sabedoria que a idade traz, e potencial de quem acabou de (re)nascer. Para aliar a experiência das últimas décadas e um futuro promissor, a empresa, comandada por Francisco Gomes Neto, quer chegar mais longe, alcançar novos mercados e se manter mundialmente relevante.

Para voar mais alto, o desafio de Gomes Neto não é fácil. E ninguém disse que seria. O executivo, que antes da Embraer foi diretor geral da Marcopolo, aprendeu grandes lições sobre gestão, e foram elas que o ajudaram a chegar ao topo da Embraer. Em setembro de 2017 um incêndio destruiu a unidade de plástico da fabricante de carrocerias e colocou a empresa gaúcha em uma de suas maiores crises. Foi neste momento que Gomes Neto surpreendeu. Com a situação contornada de modo ágil, a empresa voltou a produzir em cinco dias. “Isso evidenciou a capacidade de gestão de Francisco Gomes Neto”, diz o headhunter Carlos Alberto Simon.

Após esta experiência, não demorou para o conselho da Embraer convidar Gomes Neto, num momento em que novos mercados se abrem. “A Embraer foi muito além do que se imaginava em agosto de 1969, quando a empresa foi criada pelo governo federal. Um projeto do Estado brasileiro, tendo à frente a Força Aérea e visionários como Ozires Silva”, diz Gomes Neto. Ozires Silva, hoje aos 88 anos, foi o mosquito que colocou na empresa o vírus da inovação. Em 1950, quando as pessoas ansiavam cruzar os céus, o engenheiro – com os dois pés no chão – pensava que para alguém voar outra pessoa teria de construir os aviões. E o modelo desenvolvido por ele começou com a criação do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), que ainda orienta a Embraer. Hoje são parcerias com universidades, centros de pesquisa, startups e empresas.

“Alianças estratégicas são essenciais para abrir novos mercados, ganhar escala, gerar oportunidades para a nossa engenharia e fornecedores brasileiros”

Desde 1969 o mundo mudou, e a Embraer também. Hoje, a cada 10 segundos um avião brasileiro decola de algum aeroporto do mundo, mas o CEO deixa claro que a empresa quer mais. “São sistemas de controle de tráfego aéreo, satélites, radares e soluções para indústria naval e segurança cibernética, além de mobilidade aérea urbana. Temos um time, por exemplo, para desenvolver nosso ‘carro voador’, ou melhor, veículo elétrico de decolagem e pouso vertical.”

Tudo isso em um momento em que a empresa aguarda aprovações de órgãos regulatórios para concluir a venda de parte da divisão de aviação comercial à Boeing, gigante norte-americana. A junção criará a Boeing Brasil Commercial, por meio de uma joint venture. Há ainda outra parceria entre as empresas, chamada Boeing Embraer Defense, e que produzirá o cargueiro militar KC-390. “A parceria com a Boeing na aviação comercial e na comercialização do KC-390 fortalece a empresa em um novo momento do mercado, em que fornecedores e concorrentes passam por um processo de consolidação. Alianças estratégicas são essenciais para abrir novos mercados”, diz o CEO da Embraer.

Segundo o acordo, na Boeing Brasil Commercial a norte-americana fica com 80% do ativo, já na segunda, a brasileira terá 51%. “A criação dessas joint ventures aumenta as oportunidades de alavancar investimentos, emprego e crescimento das exportações de alto valor agregado no Brasil”, diz Gomes Neto, que prevê conclusão do negócio em 2020. “A Embraer terá um caixa mais robusto, redução de dívidas e mais investimentos”. Viva e em constante mudança, como o mundo moderno, a Embraer promete se rever constantemente – papel que também cabe à Gomes Neto, que das terras ao ar, mostrou que é possível chegar longe. “Vamos manter o espírito dos pioneiros de desafiar o impossível expandindo nosso alcance em terra, mar, espaço e ciberespaço.”