Ela já parece inevitável. A combinação explosiva do avanço da epidemia do coronavírus com a nova crise do petróleo empurrou a economia global para a beira do precipício. China, parte da Europa e mesmo os EUA sentem a parada em alguns setores. Norte-americanos lançam medidas de emergência para motivar a reação. Além dos juros em queda, promovem corte de impostos e licenças remuneradas. Itália entrou em quarentena e a produção em todo mundo experimenta consequências do débâcle. A cadeia de eventos em torno da guerra entre russos e árabes, que levou o preço dos combustíveis a uma queda histórica de mais de 30%, desembocou nas bolsas de valores como um tsunami. Empresas perderam valor em um ritmo alucinante. Investimentos secaram. A credibilidade derreteu e o pânico tomou conta. Os planos de IPO, com novas ofertas de ações, estão sendo revistos. Alguns foram congelados, sem previsão de datas futuras. Internamente no Brasil, a alta do dólar a patamares não esperados, sequer sonhados, e o anúncio de um PIB medíocre derrubaram as expectativas de retomada rápida em 2020. Os números do próprio governo foram revistos para baixo. O Produto Interno Bruto que seria, “no mínimo”, na expectativa inicial do Ministério da Economia, de 2,5%, já ronda a casa dos 2% com viés de baixa. Economistas dizem que, no momento, existe muito pouco espaço para estímulos macroeconômicos. Incentivos via política fiscal estão descartados. Até porque a arrecadação federal não vive seus melhores momentos. O ministro Guedes sinaliza que a saída se dará via reformas – administrativa e tributária, pela ordem. Mas elas tardam a ocorrer. As propostas oficiais do governo sequer foram enviadas ainda. O Congresso defende que medidas adicionais de emergência precisam ser colocadas à mesa e, tentando colaborar, vira alvo de protestos ideológicos dos bolsonaristas. Não é um ambiente que contribui para o otimismo. Ao contrário. O cenário mudou e com ele o humor dos investidores. A recessão global é tratada como fato concreto por organismos multilaterais como o FMI, que já traçam alternativas de crédito para injetar liquidez nos mercados. Os bancos centrais ao redor do globo estão sendo chamados a colaborar com o movimento. Em meio ao caos, as autoridades brasileiras – presidente Bolsonaro à frente – foram acusadas de hesitação e despreparo diante de seu primeiro e real desafio. O mandatário fez pouco caso da crise. Ostentou uma incômoda indiferença com a situação em seu circuito de encontros pelos EUA. Na volta, ficou mais preocupado em organizar atos de protestos do que em oferecer soluções. Nesse ínterim, o real derreteu e o Brasil fica agora sob ameaça de ser engolido pela espiral recessiva.