Apesar de sexagenário, o personagem criado por Maurício de Souza em 1962 reflete bem a modernidade que a Cargill Foods, unidade da Cargill Global, busca nesse momento. O simpático Jotalhão virou referência de extrato de tomate e há décadas mantém uma relação muito particular com os consumidores. No entanto, o mesmo público que se identifica com a marca Elefante pela tradição do sabor baseado apenas em tomate, sal e açúcar, agora também exige comprometimento de toda a cadeia produtiva com a preservação do planeta. A empresa entendeu o recado: investiu R$ 80 milhões para substituir a antiga embalagem de metal por plástico. A nova versão, feita com material asséptico, pode ir para a geladeira, oferece praticidade com tampa abre e fecha e evita a emissão de 6,8 mil toneladas de gás carbônico por ano. Na cadeia produtiva como um todo a redução nas emissões de CO2 é de 20%.

Essa modernização da marca Elefante, em sintonia com as novas exigências do mercado, era um dos principais desafios do diretor-geral da Cargill Foods para América do Sul, Augusto Lemos, quando ingressou na companhia em 2018. “O Elefante era o extrato usado pelas avós, e eu tinha de fazer com que se tornasse a preferência também das mães e das netas”, disse o executivo. O próximo passo é o lançamento, em breve, da opção apenas com tomate, sem temperos.

GANHO DOBRADO Segundo Lemos, a empresa dobrou faturamento nos últimos três anos, com base nas duas principais operações, a produção de óleos e gorduras de base vegetal e a de atomatados — que é bem específico do Brasil. “Queremos repetir o desempenho nos próximos cinco anos”, afirmou, sem citar os valores já alcançados nem os pretendidos. Já a fórmula para alcançar a meta não é sigilosa: inovação. Os segmentos de alimentos orgânicos e plant-based, aqueles produzidos à base de vegetais, estão no radar da empresa como opção para ampliar o portfólio. “Temos estudado o plant-based, mas ainda é preciso descobrir a maneira mais adequada de criar parcerias.”

O plano envolve ainda expansão geográfica, em especial nas regiões Norte e Nordeste, e o segmento de food service é um importante suporte. Hoje a empresa tem centenas de milhares de micro-operadores, como restaurantes, que consomem as gorduras de base vegetal. Cada fator positivo fica mais valioso porque os desafios são expressivos. No setor de óleos, a maior demanda global por biodiesel incentiva a redução do uso de combustíveis fósseis, mas amplia a demanda pela matéria-prima. “Tivemos uma quebra recente no abastecimento de soja. E compramos a commodity no Brasil pela cotação internacional, com o dólar elevado”, afirmou o executivo. “Sem contar o aumento do preço de combustível, que impacta no custo logístico.”

Na opinião de Lemos, os planos de crescimento para este ano, especificamente, vêm embalados em volatilidade. Seguimos em uma pandemia global; há toda a influência dos efeitos climáticos sobre a produção agrícola e, consequentemente, sobre o fornecimento de soja e outros insumos; e ainda há eleições, sobretudo a presidencial, que sempre mexe com o cenário econômico e financeiro. “Fazer negócio no Brasil é lidar com esse ambiente volátil”, disse.

VALOR AMBIENTAL O food service começou a ser atendido com recipientes de maior volume, o que reduz o consumo de material plástico. Mais do que isso, a empresa tem ajudado seus clientes, e os clientes deles, a darem um destino mais adequado ao que pode ser reciclado. Em 11 anos, ela conseguiu reciclar 7 milhões de litros de óleo que foram entregues nos seus mais de 3 mil pontos de coleta. Um litro de óleo contamina até 25 mil litros de água. Esse óleo acaba sendo utilizado na produção de biodiesel e até gerando impacto social. “Há famílias que trabalham com isso”, disse Lemos. Já a embalagem plástica na qual o óleo é entregue vira matéria-prima para a construir novos pontos de coleta.