Quinta-feira, 8 de junho, 9 da manhã. Estressado, o engenheiro eletrônico Cassius Schymura chegou cedo em seu escritório no décimo andar de um prédio na Avenida Brigadeiro Faria Lima, zona sul de São Paulo. O presidente da IdeiasNet ? a maior holding de Internet brasileira, que tem em seu portfólio 17 empresas pontocom ? não escondia olheiras de noites maldormidas. ?Estamos nesta operação desde março. Foi muito trabalho?, afirmava. ?Nada pode dar errado.? Schymura mantinha fala firme e sorriso estampado na cara. Mas as mãos, trêmulas, denunciavam que aquele não seria um dia normal de trabalho. Em poucas horas, comandaria o maior desafio de sua empresa: a abertura de capital na Bovespa. Um rito de passagem para levar a IdeiasNet, de cinco meses de vida, à maturidade. Um fato em si apavorante para este descendente de alemães, de 35 anos, que sempre trabalhou com marketing. Além disso, sua empresa estava fazendo a prova de fogo para o mercado de capitais brasileiro. A IdeiasNet seria a primeira empresa de Internet a debutar na bolsa. ?Criamos uma opção ao sonho de todo empreendedor nacional: lançar seus papéis no Brasil mesmo, não na Nasdaq.?

Sozinho em sua sala, às 9h30, Schymura passava o olho pelas manchetes de jornais. Sua preocupação? Se os índices da Bovespa tinham fechado em alta. E tinham. Geralmente, o primeiro dia de pregão define o sucesso da empresa. ?A bolsa é a melhor forma de captar recursos a longo prazo.? Com a operação, a IdeiasNet queria alavancar R$ 33 milhões. Reinvestir em seus 17 sites e, por que não, comprar novos. O dia seria ainda mais generoso do que ele havia previsto. Às 10 horas, repetindo a rotina diária, o executivo abriu seu computador para monitorar a centena de e-mails recebidos. Meia hora depois, reunia sua equipe ? 11 profissionais, que se dividem entre os escritórios de São Paulo e Rio ?, para acertar os detalhes finais da manobra. A operação que levaria a IdeiasNet à Bovespa, coordenada pelo BBA Creditanstalt, não estava mais em suas mãos. Como todos os funcionários têm participação em ações da empresa, faziam coro com o chefe. E torciam pelo sucesso da empreitada. Eram 11 horas quando a reunião terminou. Sua secretária estava na sala com papéis para assinar, como se fosse um dia normal. Não era. Schymura pediu um táxi e, quando o carro chegou, descobriu-se engarrafado na Avenida Nove de Julho. Entre reclamações e sugestões de caminho, disparava o celular. Precisava encontrar a mulher Carla, que queria ver o pregão inaugural.

Meio-dia. Na Bovespa, o clima era de festa. Dois banners da IdeiasNet cobriam a porta principal. Atores fantasiados de Albert Einstein quebravam o gelo. ?Tudo é relativo. Menos o fato de sermos a primeira pontocom na Bovespa.? Schymura foi envolvido por um mar de jornalistas. Mal conseguia segurar o microfone. Lá do fundo, apareceu a salvação: Carla, a mulher, chegava para acalmá-lo. Duas da tarde, em ponto. No meio dos operadores, ele abria o pregão vespertino da Bovespa. ?Apertar o botão do pregão era um sonho de infância?, revelou. A partir de então, IdeiasNet tornava-se IDNT3, outro papel da Bovespa. Vitoriosa. As ações que abriram o pregão em R$ 11, atingiram R$ 14,21 ao fim do dia ? uma valorização de 30% e um acréscimo de R$ 12 milhões no caixa. Bem acima das expectativas de mercado. ?É um bom investimento, pelo menos no começo?, diz Carlos Augusto Levorin, diretor da gestora ClickInvest. Até o superintendente-geral da Bovespa, Gilberto Mifano, admitiu: ?Se esta operação tiver sucesso, a Bolsa deverá contar com duas outras pontocom até julho.? Na saída do pregão, aliviado, Schymura teve seus minutos de glória. ?Por que agora você não entrevista meus concorrentes, que diziam que eu era marqueteiro? Alguém tinha que ser o primeiro. Fui eu.?