Nem bem havia terminada a votação no TRF-4 de Porto Alegre, o mercado financeiro já passava a sinalizar uma euforia com o resultado. Lula fora das eleições. Cabem embargos declaratórios, um tipo de ferramenta que serve apenas para protelar o inevitável. O Partido dos Trabalhadores pode usar toda a sorte de apelações, judicializar ao máximo, mas agora o seu líder encalacrado, réu em seis processos, condenado em segunda instância, está fora do jogo. Nenhuma Corte superior será capaz de rever uma decisão colegiada tomada por unanimidade. Antes mesmo do fechamento do pregão, a bolsa atingia a marca, novamente recorde, de quase 84 mil pontos.

Valorização de mais de 3,5%. O câmbio levava o dólar a recuar significativamente. Apenas uma prévia do movimento que provavelmente deverá se repetir nos próximos dias. Os fatos são inequívocos: o xadrez político terá outra dinâmica daqui para frente e as possibilidades de risco econômico com um “salvador da pátria” que coloque tudo a perder diminuíram bastante. Para empresários e financistas, o que mais assustava na candidatura Lula eram as chances reais de retrocesso. Ele passou a falar em regulação, em revisão das reformas – inclusive a da previdência, ainda em andamento para aprovação pelo Congresso –, sem contar o seu descompromisso com o controle fiscal, os pendores estatizantes e o pendor ao populismo numa eventual gestão.

O Lula que se apresentava para a corrida presidencial desta feita representa tudo que o mercado não quer: um defensor do Estado interventor e da algazarra orçamentária. Sua chance de eleição, por si só, trazia incerteza política. O quadro sucessório poderia entrar numa espiral de processos legais em cascata, com embargos sem fim, inclusive sobre a eventual posse no caso de vitória. Após anos de recessão, de medidas erráticas nas gestões petistas, de regressão nos indicadores monetários, não daria para suportar esse cenário. O setor produtivo, pela natureza de sua atuação, não pode e não deseja trabalhar com crise institucional. E ela estava no horizonte com a marcha de uma candidatura Lula. Nas últimas semanas, de todo modo, o mercado já precificava uma ampla derrota do petista.

Praticamente nenhum analista financeiro apostava em absolvição de Lula. Lá fora, os títulos brasileiros surfavam a onda de liquidez internacional como se por aqui não existissem ameaças de solavancos. E os prognósticos acabaram por se confirmar. Há razões robustas para se prever daqui para frente uma onda ainda maior de investimentos nos ativos nacionais e mesmo no plano de projetos empresariais. Que assim seja. Sem Lula, um indisfarçável alívio passou a prevalecer.

(Nota publicada na Edição 1054 da Revista Dinheiro)