Paulo Gala, economista com mestrado e doutorado na mesma área, professor e autor de livros sobre economia brasileira, macroeconomia e desenvolvimento econômico, é o convidado do novo episódio do MoneyPlay Podcast, programa voltado para o mundo das finanças, apresentado pelo educador financeiro Fabrício Duarte. 

Profissional que une a experiência da docência à atuação no mercado financeiro, ele fala das diferenças entre economia e finanças, expectativas para o cenário econômico brasileiro e a importância da educação financeira para todo mundo.

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Da academia ao mercado financeiro

A primeira vez que Paulo Gala comprou uma ação foi em 1995, um ano após entrar na Faculdade de economia. “Como falava-se muito de investimentos e ações, fui atraído pelo mundo das finanças e nunca mais saí.” 

Quando acabou o doutorado, ele foi convidado pela FGV para coordenar o mestrado profissional, um curso focado em quem trabalha no mercado financeiro, o que acabou o aproximando de pessoas que trabalhavam do setor e, em 2011, ele entrou formalmente no mundo dos investimentos. “Era a oportunidade de entender mais como as coisas funcionam, de ver a máquina por dentro”, conta Gala.

Ele começou como economista-chefe de uma corretora em 2012. Lá, atuava no sell-side (segmento voltado à criação, promoção e venda de instrumentos financeiros, como ações, títulos, câmbio), fazendo análises. Depois, migrou para uma corretora para gerir fundos. “Quando você precisa comprar alguma ideia de investimento com o dinheiro de alguém o nível de responsabilidade é muito maior.”

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Na gestora, o economista foi gestor de fundos de multimercado, de renda fixa, funds of funds (fundos de fundos) e, depois, assumiu como CEO. “O nível de adrenalina multiplica por dez quando você está comprando ou vendendo, pois é você quem ganha ou perde dinheiro”, diz. “Mas também é muito mais emocionante porque você está realmente fritando.” 

Perfil investidor

Quando investe em uma ação, Gala diz ter “uma cabeça de economista”. Ele analisa como está o mercado da empresa, quais são os concorrentes, qual é o potencial de upside (aumento de valor), se seu produto é diferenciado e o que só a companhia sabe fazer. “O fundamento econômico me ajuda a ter convicção para tomar posições.”

Mas ele confessa ter cometido falhas. “Meus erros foram muita alavancagem e cálculo errado de liquidez por conta da calibragem da estratégia”, afirma. “Mas, ao longo do tempo, você vai amadurecendo nessa calibragem e fica mais humilde.” Gala acredita que errar não é um problema, mas um fruto de aprendizado. Só é preciso ter consciência e noção do tamanho das suas estratégias, do seu grau de alavancagem e liquidez para que o erro não acabe com o investidor, porque o tamanho do erro sim pode ser um problema.  

Para o economista, é preciso tomar um nível de risco que deixe o investidor dormir, pois, caso contrário, prejudicará a parte emocional. Tranquilidade é fundamental para não tomar uma decisão errada e ter uma vida de investidor perene. “Investir é um negócio para se fazer até morrer. Tem que ser um hábito de vida.” 

Hoje, os investimentos do professor estão mais concentrados em renda fixa e títulos. “O mercado de renda fixa também é uma Disneylândia”, diz. “Você pode ser um trader (investidor que opera no curto prazo, aproveitando-se da volatilidade do mercado) de renda fixa e ter ganhos de até 30% em 15 dias, um mês.”

Mercado brasileiro

Gala acredita que o mercado financeiro brasileiro é tão sofisticado quanto o dos Estados Unidos, o da Inglaterra ou o de Singapura. “O Brasil não fica atrás de ninguém em termos de sofisticação dos instrumentos e a gente é realmente fronteira em termos de tipos de operação”, justifica.

Mas, no que diz respeito à escala, o Brasil é “uma brincadeira de criança”, nas palavras do economista. E a escala, explica, tem a ver com o tamanho do PIB. “Os Estados Unidos é uma economia de 20 trilhões de dólares e o Brasil é de 2 trilhões de dólares”, compara. 

A única maneira do mercado financeiro brasileiro se aproximar do americano, segundo Gala, é a economia nacional crescer por volta de 5% ao ano durante uns 10 anos seguidos, ou seja, entrar numa rota de crescimento consistente. “Mas faz uns 30, 40 anos que não crescemos  dessa forma. E não é o fato do brasileiro investir mais em ações que vai fazer a gente voltar a crescer.”

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