Como quase todas as atividades, o mercado de arte teve seu funcionamento e alguns de seus parâmetros profundamente alterados pela pandemia. A retração da economia travou os negócios pelo simples fato de que os meios tradicionais de venda, como os leilões, deixaram de ocorrer. No entanto, à medida que a economia se aproxima novamente da normalidade, observa-se não apenas uma recuperação do mercado, como também o estabelecimento de novas maneiras de fazer negócios e alterações até no próprio conceito de obra de arte.

Segundo uma estimativa da corretora de seguros americana Aon, uma das maiores do mundo, o mercado de arte movimentou US$ 64,1 bilhões em 2019, queda de 5% ante o ano anterior. Uma estimativa do banco suíço UBS confirma esses dados, e indica uma baixa de 22% em 2020, para cerca de US$ 50 bilhões. Boa parte da retração no ano passado deveu-se ao fechamento das casas de leilão, que intermediaram 37% dos negócios fechados no ano anterior.

No entanto, mesmo sem ter público, formas alternativas de negociação, como a venda por telefone, ganharam tração, o que impediu uma queda mais acentuada do. E a pandemia obrigou essas empresas, muito tradicionais e refratárias à inovação, a desengavetar projetos de informatização. Por isso, a expectativa ainda informal para 2021 é de uma recuperação significativa do mercado, retornando pelo menos aos níveis de 2019. Com uma dose extra de fermento: em tempos de conexão virtual, ficou muito mais fácil para os artistas negociarem seu trabalho diretamente, sem ter de passar pelo filtro ­— e pelos custos — das galerias, segundo a economista especializada em arte da Aon, Rachel Barclay. “Os últimos meses foram um período de experimentação, acelerando uma mudança que, de outra forma, poderia levar anos para acontecer”, disse ela.

MERCADO BRASILEIRO Por aqui a percepção é que o interesse dos investidores está renovado. O marchand paulista Ricardo Camargo lançou no domingo (21) a 18ª edição do Mercado de Arte, que ocorre há três décadas sem periodicidade definida. O evento tem vários trabalhos dos participantes da Semana de Arte Moderna cujo centenário será comemorado no ano que vem. Um exemplo é Celebração Cubista, de Antonio Gomide, que ilustra essa reportagem, além de peças de arte sacra e de autores mais contemporâneos. O destaque é Morto, um estudo de Cândido Portinari de 1958 para o painel Guerra e Paz, realizado no edifício da Organização das Nações Unidas em Nova York.

O resultado da exposição mostra a recuperação do mercado. Das 50 obras, 20% foram vendidas no dia da abertura. “Os preços não estão tão inflados como estavam em 2019, mas se recuperaram das quedas de 2020, apesar de ainda estarem longe do pico”, disse Camargo. “A demanda por obras de qualidade permaneceu inalterada durante a pandemia, mas agora notamos um movimento de normalização das cotações.”