Identificar um fundo excelente parece simples. Ele proporciona uma boa rentabilidade ao investidor sem que ele se exponha a riscos excessivos. Por trás dessa aparente obviedade, porém, há um processo complexo.

É preciso comparar o fundo com outros que adotam estratégias semelhantes e também é necessário avaliar como todo o grupo se comportou em relação a um indicador de referência. Por exemplo, saber quais fundos de renda fixa superaram a rentabilidade dos juros de mercado medidos pelo Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI), ou quais fundos de ações mantiveram intacto o dinheiro do cliente durante os períodos em que o Índice Bovespa passou por solavancos. Um pouco de matemática resolve.

No entanto, os fundos não são entidades isoladas. Eles dependem do trabalho dos gestores, que tomam as decisões de comprar ou vender ativos financeiros, e chegam até o investidor por meio de distribuidores.

São os distribuidores que executam o trabalho burocrático de cadastrar os clientes, conferir aplicações e retiradas e manter em dias as informações requisitadas pelo Fisco. No Brasil, a maior parte dos investidores em fundos faz suas aplicações nos grandes bancos de varejo, embora plataformas independentes de distribuição de produtos financeiros tenham vindo para ficar.

Por isso, escolher bons fundos é apenas parte do trabalho de quem quer obter resultados excepcionais na gestão de seu dinheiro. Também é preciso definir qual é o melhor banco para você.

“Um bom banco para investir não é apenas aquele que oferece os melhores fundos, próprios ou de terceiros”, diz William Eid Júnior, professor titular de finanças da Fundação Getulio Vargas e responsável pela elaboração do ranking que DINHEIRO passa a publicar a partir deste ano. “O melhor banco para o investidor é o que, além de dispor de bons produtos, facilita o acesso aos fundos, reduz periodicamente a cobrança de tarifas e recebe poucas reclamações”, diz ele.

Com base nesses critérios, a Fundação Getulio Vargas, por meio do Centro de Estudos em Finanças (CEF/FGV) elaborou a sexta edição do prêmio O Melhor Banco para Você Investir (confira os critérios abaixo).

Neste ano, o vencedor foi o Santander. O banco ficou em primeiro lugar em duas categorias, o que oferece os melhores fundos para Varejo Seletivo e os melhores fundos da categoria Money Market.

No Varejo Seletivo estão os fundos dedicados aos clientes mais endinheirados dos grandes bancos. No caso do Santander, os que são atendidos pelas plataformas Van Gogh e Select. Já os fundos Money Market são os que proporcionam ao investidor uma aplicação de baixa volatilidade e liquidez elevada, mesmo que, com isso, tenham de sacrificar parte da rentabilidade.

Com cerca de R$ 250 bilhões em ativos sob gestão em dezembro, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), entidade que representa o setor, a empresa de gestão de recursos do Santander é a quinta maior do Brasil e a maior sob a responsabilidade de um banco de controle internacional.

Segundo Miguel Ferreira, principal executivo da empresa, a estratégia do Santander para 2019 será diversificar os produtos oferecidos de maneira a capturar as melhores oportunidades de ganho que se apresentam para o ano. Há dois anos no comando da gestora, Ferreira reestruturou as atividades nesse período.

“Criamos núcleos dedicados a produtos específicos, como fundos de crédito, imobiliários e dedicados a ativos de infraestrutura”, diz ele. Para março, a empresa prepara o lançamento de dois fundos específicos para comprar debêntures de infraestrutura. Esses títulos de renda fixa de longo prazo em geral pagam ao investidor a correção da inflação mais uma taxa de juros, e possuem a vantagem da isenção tributária em seus rendimentos. “Com a perspectiva de reforma da Previdência e do destravamento dos investimentos haverá oportunidades muito boas nesse setor”, diz ele.

A avaliação da empresa de gestão do Santander é que o cenário econômico será benigno neste ano. Mesmo considerando uma desaceleração do crescimento da economia mundial – o crescimento previsto é de 3,1%, ante os 3,9% estimados de 2018 – Ferreira e sua equipe esperam que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresça cerca de 3% em 2019.

Sua estimativa está um pouco acima dos 2,5% que são o consenso do mercado. A justificativa vem dos Estados Unidos, mais especificamente do Fed (Federal Reserve, o banco central americano). “O Fed anunciou que não deverá elevar os juros, sendo que a estimativa anterior era de duas altas nas taxas neste ano”, diz Ferreira. “Isso deve estimular os investimentos em renda variável e melhorar o desempenho da economia.”

VAREJO Ricardo Almeida, principal executivo da Bradesco Asset Management (Bram), também está otimista. A empresa de gestão de recursos do banco fundado por Amador Aguiar encerrou 2018 com R$ 607 bilhões sob administração, ficando em terceiro lugar no cômputo geral. Nesta edição, o Bradesco foi escolhido como o melhor banco para se investir na categoria Varejo. Os prognósticos para 2019 são bons. “Estamos confiantes na aprovação da Reforma da Previdência, que deve sustentar um crescimento de 2,6% na economia brasileira”, diz Marcelo Toledo, economista-chefe da Bram.

A estratégia da Bram para enfrentar o longo período de juros baixos, foi aumentar, cautelosamente, o prazo dos títulos públicos que os fundos compram. O prazo médio até o vencimento, conhecido pelo nome técnico de duration, cresceu em 50 entre agosto do ano passado e janeiro deste ano, diz Almeida. Na estratégia de produto, a Bram ressuscitou um conceito tradicional da indústria. São os fundos balanceados, que mantém seu patrimônio investido em classes de ativos diferentes seguindo proporções mais ou menos fixas.

“Tradicionalmente esses fundos tinham a maior parte de seu patrimônio em renda fixa e uma fatia menor em ações”, diz Almeida. “Em agosto, lançamos uma família de fundos denominada Alocação, que diversifica os recursos em renda fixa, renda variável e ativos cambiais.” O resultado, segundo o executivo, foi bom. Mesmo sem grandes esforços publicitários, essas carteiras captaram R$ 4,5 bilhões em menos de seis meses. “Para montar uma estratégia tão diversificada, o cliente precisaria ter R$ 2 milhões para investir, mas agora ele consegue fazer isso por meio do fundo, investindo apenas R$ 3 mil”, diz Almeida.

RENDA FIXA, AÇÕES E MULTIMERCADOS Alongar as posições no mercado de renda fixa e apostar em emissões de empresas privadas, além dos tradicionais títulos públicos, tem sido a estratégia da BB DTVM, empresa de gestão de recursos ligada ao Banco do Brasil. Líder do mercado, com R$ 927 bilhões em ativos sob administração, o banco foi o vencedor na categoria Renda Fixa, e foi vice-líder nas categorias Ações e Varejo Seletivo. Segundo Carlos da Costa André, presidente da BB DTVM, o cenário é favorável. “Vamos ver o fim do movimento de normalização da taxas de juros, com uma pequena elevação das taxas, mas nada significativo”, diz ele. Segundo André, os prognósticos para o ano são de um bom funcionamento do mercado de capitais, com mais empresas buscando recursos. “Isso amplia a possibilidade de termos esses títulos em carteira”, diz ele.

Vencedor em duas categorias, Ações e Multimercados, o Itaú Unibanco administra cerca de R$ 680 bilhões em fundos. Sua empresa de gestão é a segunda maior do mercado, e a maior entre os bancos privados.

Segundo Eduardo Toledo, especialista em gestão de portfólio, a estratégia dos fundos de ações é focar no retorno absoluto dos fundos, e não tentar acompanhar indicadores de mercado, como o Índice Bovespa. “No ano passado, os fundos apresentaram um bom desempenho com ações de energia e de saneamento, além de petróleo”, diz ele.

Para 2019, a empresa continua acreditando nesses segmentos e também no setor de consumo, que deverá ser beneficiado pela política de juros baixos. Gerson Konish, outro especialista em gestão de portfólio, diz esperar uma entrada forte de dólares no Brasil com a volta dos estrangeiros. “Esperamos uma taxa de câmbio de R$ 3,60 no fim do ano”, diz ele. O patrimônio dos fundos multimercados do banco divide-se entre ações, renda fixa e câmbio em proporções semelhantes. “E não ficamos restritos ao Brasil, usamos a estrutura do Itaú Unibanco na América Latina para executar estratégias nesses mercados”, diz ele.


Os critérios de seleção Como a Fundação Getulio Vargas define os melhores bancos para o investidor

Por Cláudio Gradilone

William Eid Júnior, coordenador do Centro de Estudos em Finanças da FGV: avaliando os fundos

Para escolher os melhores bancos para o investidor, a Fundação Getulio Vargas considera dois aspectos: a qualidade dos fundos e a qualidade dos serviços que o banco oferece, além dos investimentos. Para definir os melhores fundos, a metodologia é uma das mais tradicionais do mercado financeiro, o índice de Sharpe. Desenvolvido pelo americano William Sharpe, prêmio Nobel de Economia de 1993, o método avalia fundos comparando a rentabilidade que proporcionam ao investidor com o risco que oferecem para isso.

A adaptação às condições brasileiras foi desenvolvida no Centro de Estudos em Finanças da Fundação, o CEF/FGV, sob a coordenação de William Eid Junior, professor titular de finanças da Instituição. Criado em 2001, o Centro dedica-se a estudos comparativos dos principais setores do mercado financeiro, em especial os fundos de investimento. No prêmio, foram considerados os bancos com mais de 50 agências. Instituições que distribuem produtos de maneira virtual foram avaliadas como plataformas. Foram avaliados 308 fundos de investimento, abertos, não-exclusivos, com patrimônios entre R$ 24 milhões e R$ 30 bilhões, e esses produtos tiveram analisado seu desempenho ao longo de 2018.

Segundo Eid, a avaliação da prestação de serviços dos bancos, algo bastante subjetivo, é realizada comparando dados numéricos como o índice de reclamações divulgado pelo Banco Central (BC), e a avaliação dos custos dos pacotes de tarifas, das taxas de administração e dos investimentos mínimos dos fundos. “O critério é simples: quanto menor a taxa de administração e o investimento mínimo, mais acessíveis são os produtos do banco, e quanto menores as reclamações, melhor a qualidade dos serviços”, diz Eid. A premiação considerou os resultados do Painel da Indústria Financeira (PIF), elaborado pela consultoria Fractal, do especialista Celso Grisi, para avaliar a qualidade dos serviços dos bancos.

Claudia Yoshinaga, professora de finanças da FGV que participou da elaboração do estudo, avalia que o momento de mercado é favorável ao investidor. “Há algum tempo, o acesso dos clientes dos bancos a produtos financeiros era restrito a produtos da própria instituição, mas agora está tudo mais democrático”, diz ela. Yoshinaga avalia que, no decorrer do tempo, a facilidade de migração de clientes de um banco para outro estimula a melhora da qualidade do atendimento. Para ela, essa nova forma de atuação foi provocada pela vinda de plataformas como a XP Investimentos.

Ricardo Rochman, coordenador do mestrado profissional em economia da FGV e outro participante do estudo, concorda. Para ele, as plataformas digitais causaram um grande impacto nos segmentos de varejo seletivo, pois elas permitiram o acesso a produtos que antes eram reservados aos clientes de alta renda.

“A médio prazo, essas plataformas vão melhorar a qualidade dos serviços do mercado como um todo, pois elas tornaram muito fácil para o cliente insatisfeito migrar para outro fornecedor”, diz ele. A íntegra da apresentação dos critérios de premiação pode ser encontrada aqui.

Colaborou: Priscilla Arroyo