O mercado financeiro entrou em parafuso nos últimos dias com o temor do pior na eleição presidencial de 2018. A possibilidade aventada pela pesquisa Ibope de a disputa chegar ao segundo turno com o candidato de extrema-esquerda, Lula, e de extrema-direita, Bolsonaro, gerou pesadelos aos investidores. O dólar foi ao pico dos últimos meses e veio a subir 3% em um único dia após a divulgação do levantamento. A bolsa de valores, que experimenta uma temporada de lua de mel com recorde de pontos pregão a pregão, ensaiou um recuo com fuga de capitais. Era um movimento previsível, mas sem qualquer elo com a realidade.

Nesse clima de incertezas políticas está tudo realmente fora de lugar. Mas pesquisas estimuladas – nas quais os nomes são apontados – e com tamanha antecedência do período da corrida, que ainda nem começou, geram distorções conhecidas. Os eleitores tendem a apontar nomes que lhe trazem algum recall e não necessariamente os que vão escolher na hora de se depararem com a urna, após uma campanha na qual são confrontadas as plataformas e as reais alternativas.

O mercado se alvoroçou com a ameaça de retrocesso, mas não consideraram que esses candidatos, com maior expressão ou exposição momentânea junto a determinado público (até por conta de propostas mirabolantes), apresentam chances ralas de seguirem em frente – por motivos distintos, é bem verdade. O radical de botinas, Jair Bolsonaro, age nessa campanha como o coelho da corrida que sai na frente para logo adiante ser engolido pelos demais. Tem fôlego curto e apelo limitado com ideias para agradar diretamente a caserna.

Imaginar, por exemplo, que os brasileiros vão “pegar em fuzis” e “se armar para dar tiro na testa de bandido”, como prega o presidenciável direitista, é desconhecer a índole pacífica da maioria dos cidadãos. Essa e outras esquizofrenias do senhor Bolsonaro o colocam na condição de opção pitoresca que atende a guetos. Nada mais. Do mesmo modo, e abatido por pilhas de processos, o boquirroto candidato Lula está a esbravejar País afora para livrar-se da prisão – algo cada vez mais remoto diante das evidências criminais que se acumulam.

Lula não vingará como presidenciável e ele mesmo, no íntimo, sabe disso. Está em cena por sobrevivência, mas as chances dele assumir o Planalto se resumem a possibilidade de todos os cidadãos passarem a acreditar que o crime compensa. E, pelo alto índice de rejeição ao seu nome, não é exatamente isso o que acontece. A Justiça não é cega, nem os excelentíssimos magistrados serão capazes de deixar um réu de inúmeras sentenças sentar na cadeira mais poderosa de Brasília com tamanha ficha corrida. Um despropósito que amedronta apenas quem não para um minuto para refletir.

(Nota publicada na Edição 1043 da Revista Dinheiro)