Em 1995, mais de 8.000 homens e adolescentes bósnios (muçulmanos) foram assassinados em Srebrenica, uma cidade que caiu no dia 11 de julho daquele ano nas mãos das forças sérvias da Bósnia.

O massacre, qualificado de genocídio pelo Tribunal Penal para a ex-Iugoslávia (TPII), foi o mais grave na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.

Marcou um antes e um depois na guerra da Bósnia, que envolveu bósnios, sérvios e croatas entre 1992 e 1995. O conflito deixou mais de 100.000 mortos e 2,2 milhões de refugiados e deslocados.

– A queda da cidade –

Desde o início do conflito na Bósnia, em abril de 1992, as Forças Armadas sérvias cercavam Srebrenica, uma cidade de maioria muçulmana na Bósnia oriental, a 15 quilômetros da Sérvia.

Em abril de 1993, em uma última tentativa de evitar a queda da cidade, a ONU declara como “zona de segurança” uma área de 148 quilômetros quadrados e envia Capacetes Azuis para assegurar a proteção.

Em 11 de julho de 1995, porém, Srebrenica cai nas mãos das tropas do general Ratko Mladic, comandante militar dos sérvios da Bósnia, partidário, como seu alter ego político Radovan Karadzic, de uma “República sérvia” etnicamente pura.

Sem armas e sem apoio aéreo, os Capacetes Azuis holandeses da Forpronu (Força de Proteção das Nações Unidas) recuam para a base vizinha de Potocari, onde observam a chegada de milhares de civis que esperam proteção, mas que são deixados para trás.

– A matança –

Nos dias seguintes, as forças sérvias da Bósnia separam os homens e adolescentes muçulmanos das mulheres e os levam em caminhões para a execução.

Centenas de homens que fugiram para as florestas próximas são capturados e assassinados.

As escavadeiras começam a enterrar os corpos em valas comuns.

A maioria das valas foi posteriormente aberta com tratores para deslocar os cadáveres e dissimular o alcance do crime.

Em poucos dias, o massacre deixou mais de 8.000 mortos.

Os primeiros depoimentos reunidos pelas organizações humanitárias apontam as atrocidades cometidas pelos homens de Mladic.

– As condenações por genocídio –

Até o momento foram 15 condenações, cinco delas por genocídio, e há dois julgamentos em curso contra três homens.

Radovan Karadzic foi condenado em 2019, em um julgamento de apelação no TPII, à prisão perpétua.

Karadzic foi a principal autoridade a prestar contas. O ex-presidente sérvio Slobodan Milosevic morreu em 2006 durante o julgamento.

Em 2017, a Justiça internacional condenou à prisão perpétua seu braço armado, Ratko Mladic, conhecido como o “açougueiro dos Bálcãs”.

Ele ainda tem pendente um julgamento em apelação no Mecanismo Internacional dos Tribunais Penais Internacionais (MTPI), que assumiu o lugar do TPII após seu fechamento em 2017.

– Críticas à comunidade internacional –

A comunidade internacional foi acusada de abandonar as vítimas, sobretudo, por não ter ordenado ataques aéreos.

Em um relatório publicado no ano 2000, Kofi Annan, então secretário-geral da ONU, culpou o conjunto da comunidade internacional por seu fracasso em assumir a proteção de Srebrenica.

Um ano mais tarde, um relatório da missão de investigação da Assembleia Nacional francesa apontou a responsabilidade dos sérvios, mas também da ONU e de Estados como a França, que participaram das operações de manutenção da paz.

– Uma ferida aberta na Holanda –

A atitude dos Capacetes Azuis holandeses continua sendo uma questão sensível na Holanda.

Em 2002, o governo holandês renunciou após a publicação de um relatório sobre sua responsabilidade no massacre de Srebrenica.

Vários casos relacionados com o massacre chegaram à Justiça holandesa, muitos deles graças às Mães de Srebrenica, uma associação de famílias das vítimas.

Em 2014, o Estado holandês foi considerado civilmente responsável pela morte de 350 muçulmanos que se refugiaram em Potocari.

Mas, em 2019, o Tribunal Supremo da Holanda inocentou parcialmente o Estado por considerar que sua responsabilidade não poderia ser totalmente comprovada.

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