O empreendedor sul-africano Elon Musk pode ser considerado o mais controverso personagem do mundo da tecnologia desde Steve Jobs. Para alguns, ele é considerado louco. Para outros, visionário. No fim de março, mais uma de suas maluquices veio à tona. O empresário é um dos investidores da Neuralink, uma empresa que pretende implantar chips em cérebros humanos para se conectarem com máquinas. Recentemente, em outra de suas esquisitices, ele cavou um buraco no estacionamento de sua empresa só para testar a sua ideia de fugir de congestionamentos por meio de túneis.

Outra iniciativa “fora da caixa” de Musk é seu projeto de colonizar Marte. “Elon Musk é muito mais visionário que Steve Jobs”, afirma Vivek Wadhwa, empresário do setor de tecnologia e membro da Universidade Carnegie Mellon, no Vale do Silício. “Ele está fazendo o impossível acontecer.” Se essas ideias vão prosperar, nem Musk deve ter certeza. O fato é que ele conseguiu criar algumas empresas que estão revolucionando a sociedade. Depois de vender seus 11% na empresa de pagamentos online Paypal, em 2002, por US$ 165 milhões, à eBay, ele transformou a indústria automobilística e aeroespacial, com a fabricante de veículos elétricos e semiautônomos Tesla e com a empresa de foguetes Space X.

“Ele é um dos maiores sonhadores da atualidade”, afirmou o bilionário brasileiro Jorge Paulo Lemann, que almoçou com Musk no ano passado. Em evento de comemoração de 25 anos da Fundação Estudar, em julho de 2016, Lemann disse que o encontro foi curto, pois Musk precisava voltar para a Tesla a fim de resolver questões técnicas. “Musk não é só um gênio, mas também põe a mão na massa”, disse Lemann. “Ele me disse que, se a equipe de engenharia não conseguisse resolver o problema, ele dormiria na fábrica e viraria a noite tentando solucioná-lo.”

Essa obsessão tem trazido resultados. Na semana passada, a Tesla ultrapassou a centenária Ford em valor de mercado, alcançando US$ 49 bilhões. A Space X, no fim de março, conseguiu também um feito histórico: colocou em órbita um satélite utilizando um foguete Falcon 9, que já havia sido usado, no ano passado, para levar suprimentos à Estação Espacial Internacional. Foi a primeira vez na história da corrida espacial que um foguete foi reutilizado com sucesso. Essa tecnologia, que faz o foguete reentrar na Terra e pousar em uma balsa no oceano, reduz drasticamente os custos dos lançamentos.

O foguete Falcon 9 inspira ainda mais Musk a criar uma espaçonave reutilizável para colonizar Marte, cujos planos foram anunciados em setembro de 2016. Ele não apenas quer levar o homem ao planeta vermelho, mas pretende fazer dele a sua morada, onde pretende viver até a sua morte, conta o jornalista Ashlee Vance, em seu livro “Elon Musk: Como o CEO bilionário da SpaceX e da Tesla está moldando o nosso futuro”. “Ser chamado de ‘louco’ é um elogio. São os loucos que mudam o mundo”, diz Wadhwa, que lançou neste ano o livro “O Motorista no Carro Autônomo: Como Nossas Escolhas Tecnológicas Criarão o Futuro”, em tradução livre.

O empreendedor, que também é engenheiro, surpreendeu o mundo em dezembro com o que parecia uma piada. Parado em um congestionamento na Califórnia, ele usou o Twitter para desabafar. “Esse trânsito me deixa louco. Vou criar uma máquina e começar a cavar túneis.” Em menos de uma hora, a ideia já era um projeto, com o nome de The Boring Company e início da escavação no estacionamento da Space X. Para ele, a solução da mobilidade deve se dar por meio de túneis para trens e estradas e não em carros voadores. “Óbvio que gosto de coisas voadoras”, diz Musk, em entrevista à revista americana BusinessWeek. “Mas é difícil imaginar o carro voador como uma solução em escala.”

Em 2013, o empresário apostou no Hyperloop, que transportará pessoas em túneis pressurizados que podem impulsionar um trem a mais de 1,2 mil km/h. Seu mais novo investimento é a Neuralink, empresa que estuda a implantação de chips no cérebro humano. “Eu nem sei se o Hyperloop dará frutos, mas não é tão estranho como, digamos, a Neuralink”, diz Roger Kay, analista da consultoria americana Endpoint Technologies. Tantos investimentos deixam apreensivos os investidores. “Ele arrisca toda a sua fortuna”, diz Mike Ramsey, diretor de pesquisa da consultoria Gartner. “Mas se você pedir a Elon Musk para parar de ser ele mesmo, então ele não será tão valioso para as empresas que ele tem ou para os investidores.”

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