Numa época de falta de semicondutores e pandemia (ainda não derrotada), as empresas não podem bobear com o setor de Supply Chain. Mas a cadeia logística tem sido um gargalo e tanto para companhias de todo o mundo, de todos os setores e de todos os tamanhos. Segundo a pesquisa Supply Chain Resilience Report 2021, produzida pelo Business Continuity Institute (BCI), a maioria das corporações reportou problemas logísticos – 84% sofreram atrasos com transporte terrestre nas fronteiras, 70% com transporte terrestre doméstico, 65% com transporte marítimo e 63% nos trajetos aéreos. Se considerarmos que o BCI possui mais de 9 mil integrantes, de 3 mil organizações (dos segmentos privado, público e do terceiro setor) espalhados por uma centena de países, dá para se ter uma ideia da encrenca.

Um problema que literalmente transforma tempo em dinheiro e atraso em prejuízo. De acordo com o Verified Marketing Research, o mercado global de Supply Chain Management sairá de US$ 15,4 bilhões de receita (2021) para US$ 41,8 bilhões até 2030. Os maiores players desse mercado são nomes grandes como IBM, Oracle e SAP, mas algumas startups de tecnologia inovam onde as grandes não conseguem, como é o caso da project44. A multinacional americana é o único provedor 100% digital de visibilidade da cadeia de suprimentos. “E isso se traduz em dados importantes para decisões melhores e mais estratégicas”, disse à DINHEIRO Pierre Jacquin, gerente geral para a América Latina da empresa.

Eduardo de Sousa

“Os algoritimos que geram bons dados permitem que a gente consiga fazer predições a partir disso” Pierre Jacquin, gerente geral para a América Latina da Project44.

A jovem startup foi fundada em 2014 e logo em 2016 já recebeu US$ 10,5 milhões em uma rodada de investimentos. O faturamento em 2021 foi de US$ 100 milhões e o valuation da empresa está na casa dos US$ 2,2 bilhões após receber US$ 420 milhões em uma rodada liderada por grandes fundos como Goldman Sachs, Thoma Bravo e TPG. A aposta, ao contrário do que acontece em muitos casos desse universo, se justifica. Globalmente já são mais de 1,2 mil clientes, como Amazon, DHL, Heineken, Tesla, Walmart e quase toda empresa grande de que você já ouviu falar.

Sua ferramenta principal é o Port Intel, software que dá visibilidade total de cargas em transporte marítimo, aéreo e terrestre. “Ser multimodal é o nosso diferencial”, disse Jacquin. “Porque quando a carga vem da China, não é só em um tipo de veículo necessário.” Nos oceanos, o software cobre 700 portos e rastreia diariamente 350 mil contêineres com uma precisão de 20 metros, além das 5 milhões de mudanças diárias de agendamento, numa prova de que ter dados maciços importa, mas saber analisá-los com precisão e velocidade importa mais.

Para o francês que lidera a companhia no Brasil, o Port Intel é mais que uma ferramenta de rastreio. É uma forma de gerar dados estratégicos, algo que segundo ele falta no supply chain. Saber o nível de congestionamento dos portos com rapidez ajuda o gestor na escolha dos melhores locais de envio para as cargas. “Se um porto estiver com 15 dias de congestionamento, é só procurar por um com três dias ou menos”, disse. “Simples assim.”

As principais tecnologias para fazer isso acontecer são blockchain, inteligência artificial e machine learning, “O blockchain trabalha uma informação segura para o cliente”, afirmou Jacquin. “E algoritmos que geram bons dados permitem que a gente consiga fazer predições a partir disso”. Cada dado coletado pela plataforma ajuda a IA a fazer previsões melhores, assim como cada vez que o algoritmo é reproduzido, o machine larning entra em ação para fazer “os históricos de performances dos barcos que aumentam a precisão das previsões”. Para isso, a empresa tem mais de 500 engenheiros trabalhando para melhorar e lançar novas funcionalidades para a plataforma.

LATAM Apesar de já ter clientes na América Latina, a empresa montou recentemente operações físicas no continente ­— Brasil, Chile, Colômbia e México, e anunciou que deve dobrar o tamanho da equipe latina. Mas há peculiaridades. Para Jacquin, uma das dificuldades em atuar no Brasil é o rastreamento terrestre, algo que a companhia busca melhorar para oferecer um melhor serviço no País. “Os primeiros meses foram para entender o mercado”, afirmou. “Hoje temos um retorno muito positivo e uma relação boa com as transportadoras locais.” Além de melhorar os KPI’s de eficiência das empresas, a project44 foca também nos KPI’s de ESG. O Port Intel ajuda a medir as emissões de CO₂ indiretas geradas pelos fornecedores. Como diz Jacquin, trata-se de juntar sustentabilidade e inteligência. Para o bem do negócio. E do planeta.