O maior canteiro de obras da América Latina está no Distrito Federal, bem perto de Brasília. Com apenas 17 anos de vida, Águas Claras, a vigésima região administrativa do DF, tem crescido em ritmo frenético e atraído investimentos de dezenas de incorporadoras. Mas lá, ao contrário da capital federal, o modelo de construções é livre. Prédios com mais de 20 andares acabaram com o horizonte azul propalado pelos brasilienses. Não há mais avenidas largas e sobram esquinas, como em qualquer grande metrópole.

O vai-e-vem de centenas de caminhões carregados de cimento, areia e tijolo é a cena mais comum nesse novo pólo residencial, onde o preço do metro quadrado explodiu nos últimos seis anos. Passou de R$ 1 mil para R$ 2,3 mil, em média. Para se ter uma idéia, o metro quadrado de apartamento com até sete anos nos Jardins, bairro nobre de São Paulo, custa R$ 2.924. Mesmo assim a procura em Águas Claras continua aquecida. ?As construções não param e já está até faltando cimento em Brasília?, disse à DINHEIRO o governador do DF, José Roberto Arruda. ?Águas Claras é uma prioridade do governo e estamos investindo na sua infra-estrutura, que está aquém do desejado.?

A 20 quilômetros do coração de Brasília, Águas Claras foi criada em 1990, para abrigar a classe média, que seria praticamente expulsa do Plano Piloto, pela especulação imobiliária ? nos últimos quatro anos, o metro quadrado dos prédios nas Asas Sul e Norte passou de R$ 2,7 mil para R$ 5,3 mil. A grosso modo, o Plano Piloto está para o Distrito Federal assim como Manhattan está para Nova York. Os imóveis são caríssimos, mas estão próximos dos locais de trabalho. E o fato é que esse custo acabou fazendo com que milhares de pessoas migrassem para Águas Claras. Já foram construídos 240 prédios, mais de dez mil unidades serão entregues nos próximos 18 meses e ainda há quatro milhões de metros quadrados para serem ocupados. Dos 163 mil moradores em potencial, há hoje 53 mil. ?O governo lançou um pacote de infraestrutura para Águas Claras, o que fará com que a procura e os preços aumentem?, diz o presidente do Sinduscon- DF, Elcio Ribeiro.

SEM RESTRIÇÃO Ao contrário da Capital Federal, os prédios de Águas Claras têm até 22 andares e os investimentos já somam R$ 3 bilhões

No final de agosto, Arruda liberou R$ 74 milhões para obras de infra-estrutura, com construção de sete viadutos e de pistas paralelas à linha do metrô para escoamento do trânsito. Até o final do mês, o governo prevê a instalação de outras facilidades urbanas. Essas obras têm atraído ainda mais incorporadoras que vêem uma grande oportunidade de negócios, no momento em que a cidade está sendo reorganizada.

O engenheiro goiano Fernando Tormim, dono da construtora Allicerce, começou seu negócio há 11 anos com foco em Águas Claras. Com dois amigos, um médico e um engenheiro, reuniu um patrimônio de R$ 300 mil e foi para Brasília. O patrimônio atual da empresa é de R$ 1,2 milhão e ele prepara para 26 de outubro a entrega de um dos mais luxuosos prédios da região, o Residencial Michelangelo. A Allicerce ainda tem outros três edifícios em construção na cidade. ?Brasília tem um problema sério de oferta de imóveis?, explica Fernando. ?Em Águas Claras se vê um lançamento por semana.? Talvez por isso, as duas indústrias de cimento do DF estejam trabalhando com 100% de sua capacidade sem conseguir atender o DF, Goiás e Mato Grosso. Mas o presidente da Emplavi Realizações Imobiliárias, Gil Pereira, alerta para o ritmo de vendas, que, segundo ele, tem deixado a desejar. ?O lucro é pequeno, porque o terreno é muito caro, e o mercado não é tão grande assim?, diz Gil. ?Não é esse Eldorado que se fala.? Quem sabe?

Mas a Emplavi tem três empreendimentos na região, com mais de 500 apartamentos.