Não bastassem o desemprego recorde, o risco da volta da inflação e a maior retração da economia desde 1962, o Brasil deixará o ranking das dez maiores economias do mundo neste ano – provando que a pandemia, embora seja global, revela individualmente quem é quem no comando de cada nação. Pelas projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI), compiladas em um estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV), o Canadá, a Coreia do Sul e a Rússia, respectivamente, irão ultrapassar o País, considerando o Produto Interno Bruto (PIB) em dólar. Com isso, o Brasil deverá cair da 9ª para a 12ª colocação. “A desvalorização do real neste ano e o aumento do risco são reflexos dos problemas brasileiros, principalmente do lado fiscal”, disse Marcel Balassiano, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da FGV e coautor do estudo, em entrevista ao jornal Valor. “As variáveis bolsa, câmbio, juros futuros mostram as incertezas e o risco embutido no Brasil.”

A queda este ano contrasta com o bom desempenho do País ao longo da maior parte das últimas duas décadas e meia. Nos 26 anos desde o Plano Real (1994-2019), o Brasil ocupou o Top Ten por 20 vezes – as exceções foram 1999 e o período entre 2001 e 2005. Em 2010, com a economia em franca expansão e o real valorizado frente às principais moedas estrangeiras, o País alcançou a inédita sétima colocação na lista das maiores economias, atrás apenas de Estados Unidos, China, Japão, Alemanha, Reino Unido e França. O PIB havia avançado 7,5%, o melhor resultado anual desde o chamado milagre econômico, nos anos de 1970. O Brasil permaneceu cinco anos entre as sete principais potências econômicas, de 2010 a 2014.

Agora, segundo dados do FMI e da FGV, o PIB brasileiro em dólar vai encolher 28,3% ante a 2019. As riquezas nacionais, convertidas para a moeda americana, cairão de US$ 1,8 trilhão para US$ 1,4 trilhão. O economista e ex-presidente do BNDES Luiz Carlos Mendonça de Barros disse, em recente entrevista à DINHEIRO, que o derretimento da economia brasileira, alimentado pela aversão e ceticismo global sobre os rumos do País, endossam os equívocos do governo na condução dos problemas sanitários, fiscais e monetários este ano.

FILA LONGA Alto desemprego e diminuição da renda do brasileiro são fatores que ajudaram a tirar o País do Top Ten. (Crédito:Danilo Verpa)

Sob o cálculo de paridade do poder de compra (PPC), o PIB brasileiro também estará menor, mas vai ficar na oitava posição neste ano. O critério de paridade de poder de compra é menos usado. Por ele, a China já é a maior economia do mundo, com um PIB de US$ 23,4 trilhões em 2019, superando os Estados Unidos, com um PIB de US$ 21,4 trilhões. “Mesmo com essa ‘melhora’ [no cálculo feito pela PPC], o PIB brasileiro também vai encolher em 2020”, acrescentou laudio Considera, pesquisador do Ibre/FGV e ex-chefe de Contas Nacionais do IBGE.

REAL DEPRIMIDO Entre os fatores de mais peso na tempestade perfeita, a depreciação do real é o que mais chama a atenção. No acumulado deste ano, durante a pandemia da Covid-19, o real foi uma das divisas que mais perderam valor no mundo. Desde o começo de 2020, a cotação média do dólar está a R$ 5,28, cerca de 30% acima do valor do mesmo período do ano passado.

O FMI projeta retração do PIB em 5,8% em 2020, frente ao ano passado. O economista Balassiano, do Ibre/FGV, disse que as medidas de distanciamento social provocaram desligamento nas economias globais e mesmo medidas de estímulo, como o auxílio emergencial adotado no Brasil, apenas evitaram quedas maiores. “Agora, os países estão em processo de reabertura, mas a recuperação plena depende do fim da pandemia.” E isso dependerá da vacina. Enquanto ela não vem, o PIB segue com sentimento de luto.