A resposta do Planalto ao intento de Paulo Guedes e sua trupe de transformar o Estado brasileiro em um ser enxuto, eficiente e funcional foi implacável. O plano liberal não vai acontecer. Foi jogado para as calendas. Virou suco, moído na onda populista de um governante que agora não enxerga mais impeditivo algum para seus mirabolantes desejos de conquistar base eleitoral nas camadas pobres, com o cultivo do voto de cabresto. A disciplina fiscal obedecida e alardeada aos quatro ventos por Guedes não passará de quimera. O ministro queria alinhar os planos políticos do chefe às necessidades e possibilidades econômicas do setor público. Preparou uma grande cerimônia para anunciar o que vinha classificando como um “big bang” de medidas, o “Dia D” da retomada do desenvolvimento pós covid. Não conseguiu. Bolsonaro tratou de transformar a ideia em um fiasco. Atropelou o subordinado implacavelmente. Primeiro, por não ter atendido aos seus anseios, adiou sem nova data o referido evento, previsto para acontecer na última terça-feira, 25. Depois acabou por cancelar a maior das bandeiras prevista para ser hasteada na ocasião: o esperado programa do Renda Brasil, uma descarada reinterpretação do Bolsa Família da era Lula, que tinha por objetivo atender a um contingente com oito milhões de famílias a mais do que o universo atualmente coberto. Bolsonaro desistiu. No seu furor marqueteiro disse que não iria “tirar do pobre para dar ao paupérrimo”. A fala veio em resposta à sugestão do ministro de retirar deduções do Imposto de Renda para turbinar os benefícios bolsonaristas. O mandatário não gostou da artimanha. Mandou abortar o projeto como um todo. Guedes foi assim humilhado em praça pública. Bolsonaro fez críticas abertas ao trabalho do Ministério. O antes czar da Economia, o “posto Ipiranga”, no qual Bolsonaro recorria para qualquer consulta, murchou. O presidente quer catequizá-lo na direção do populismo. Já enterrou todo e qualquer resquício de agenda liberal que existia ali no seu governo. Limpou da frente a turma que queria a privatização e a Reforma Administrativa. Está firme realmente na direção de estimular uma “debandada” do bloco que pensa diferente. Nem Guedes é mais indispensável. Ao contrário. É tirado dele o que lhe resta de reputação e credibilidade. Qualquer um no seu lugar já teria pedido o boné. Bolsonaro está seguindo o mesmo roteiro que adotou com todos aqueles que foram por ali por uma boa causa, lhe emprestando status que não tinha. Usou, abusou e depois jogou fora. Deu o troco em referências nacionais fritando a imagem de cada um deles. Preferiu ficar com os quadros mais sintonizados ideologicamente. Guedes, com a respeitabilidade que construiu no quesito econômico, não é mais vital. Está evidente. No entender do Planalto, ele atrapalha a agenda político/eleitoreira do capitão. Até as pedras que cercam o Palácio sabem disso. O czar, que diminui de tamanho e perde espaço dia a dia, se ficar é porque cedeu por completo às vicissitudes do mandatário e abandonou os fundamentos nos quais acredita. Valerá tamanho desgaste? Talvez, somente Paulo Guedes ainda acredite que o presidente lhe tem apreço.

Carlos José Marques, diretor editorial