06/05/2020 - 18:35
Apontado pelos Estados Unidos como o local de origem do novo coronavírus, o Instituto de Virologia de Wuhan, na China, estuda alguns dos patógenos mais perigosos do mundo.
O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, afirmou que há “uma grande quantidade de evidências” de que o vírus saiu de um laboratório nesta cidade no centro da China, onde foi detectado pela primeira vez no final de 2019.
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A televisão estatal chinesa classificou as acusações como “insanas” e a Organização Mundial de Saúde (OMS) as denunciou como “especulativas” na ausência de provas.
Pompeo disse nesta quarta-feira que “não tinha certeza” da culpabilidade chinesa, mas “evidência significativa”.
“O povo americano ainda está em risco porque não sabemos … se começou no laboratório ou se começou em outro lugar”, disse Pompeo, ex-chefe da CIA.
Segundo a maioria dos pesquisadores, o coronavírus foi transmitido ao homem por um animal. Cientistas chineses indicam um mercado em Wuhan, onde animais selvagens são vendidos.
– O que fazem os pesquisadores? –
Eles estudam doenças virais.
Recentemente, os pesquisadores do instituto contribuíram para uma melhor compreensão da COVID-19 durante sua aparição em Wuhan.
O estudo, publicado em uma revista científica em fevereiro, conclui que a sequência do genoma do novo coronavírus é 80% semelhante à da SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave) que deixou 774 mortos em todo o mundo em 2002-2003, e 96% ao coronavírus do morcego.
Ao longo dos anos, os cientistas do instituto assinaram dezenas de estudos e artigos sobre as ligações entre esses mamíferos voadores e o surgimento de doenças na China.
Segundo muitos pesquisadores, o novo coronavírus tem origem, sem dúvidas, no morcego. E acreditam que ele passou por outra espécie, o pangolim, antes de chegar ao homem.
Um fato notável é que dois pesquisadores do instituto participaram de um estudo internacional com várias universidades americanas em 2015, no qual um patógeno foi criado para analisar a ameaça de um vírus do tipo SARS.
– Como são as instalações? –
O instituto possui a maior coleção de cepas de vírus da Ásia, com 1.500 espécies diferentes, de acordo com seu site.
Existem cerca de trinta laboratórios P4 no mundo. O de Wuhan, inaugurado em 2018, foi construído em colaboração com a França e com o objetivo de reagir mais rapidamente ao aparecimento de doenças infecciosas.
O instituto também possui desde 2012 um laboratório P3, que estuda principalmente vírus menos perigosos, como os coronavírus.
– É possível um ‘vazamento’? –
Difícil saber.
Segundo o jornal Washington Post, a embaixada dos Estados Unidos em Pequim, após várias visitas ao instituto, alertou as autoridades americanas em 2018 sobre medidas de segurança aparentemente insuficientes no local.
O instituto disse que em 30 de dezembro recebeu amostras do vírus então desconhecido que circulava em Wuhan (e posteriormente identificado como SARS-CoV-2), obteve a sequência de seu genoma em 2 de janeiro e transmitiu essas informações para OMS no dia 11 desse mês.
O diretor do Instituto de Virologia, Yuan Zhiming, negou categoricamente em abril que seu laboratório seja a origem do novo coronavírus,
Em uma entrevista à revista Scientific American, a pesquisadora Shi Zhengli, uma das principais virologistas chinesas e vice-diretora do P4, afirmou que a sequência do genoma do SARS-CoV-2 não correspondia a nenhum dos coronavírus de morcego estudados em seu instituto.
– O que os pesquisadores sabem sobre o vírus? –
Além disso, nenhum indício formal mostra que seja proveniente do mercado de animais selvagens, apontado como suspeito.
Um estudo chinês, publicado no The Lancet em janeiro, indicou que o primeiro paciente de COVID-19 conhecido não tinha ligação com esse mercado.
Segundo o professor Leo Poon, da Universidade de Hong Kong, o consenso da comunidade científica é de que o vírus não foi criado pelo homem. No entanto, pede que sua origem seja esclarecida.
“É importante em termos de saúde pública, porque queremos saber como surgiu e aprender com essa experiência”, enfatiza.