A corrida para acelerar os projetos de digitalização das empresas por causa da pandemia provocada pelo novo coronavírus foi inevitável. Há praticamente três grupos. O primeiro é daquelas que estavam no início da implementação de processos tecnológicos e agora, após quatro meses de crise, estão em adaptação. O segundo é formado pelas que estavam bem adiantadas em seus conceitos digitais, se movimentaram rápido para o trabalho remoto e obtém resultados parciais, com ofertas de produtos e serviços essenciais, mas sem capacidade de operar 100%. No mercado, há visão de que essas são a maioria. Por fim existem as companhias que estão preparadas praticamente em sua totalidade para encarar os desafios do momento. Apesar de estarem em estágios diferentes, há algo em comum nesses três grupos: o investimento em tecnologia é indispensável.

Líder no segmento de softwares corporativos, a alemã SAP tem sido procurada para auxiliar as empresas a se ajustarem, seguir em frente e sair desse período difícil melhor do que entraram. Para isso, também investe. “A melhor forma é continuar investindo, como fazemos no Brasil. O trabalho do futuro não será mais como no passado”, afirma à DINHEIRO Claudio Muruzabal, que acaba de ser nomeado presidente da SAP para a parte sul da região Emea – que compreende as regiões sul da Europa, Oriente Médio e África – e também se manterá como chairman para América Latina e Caribe.

Hoje, a companhia aplica R$ 120 milhões na construção de um novo prédio da SAP Labs Latin America, na cidade de São Leopoldo (RS). A obra começou neste ano e deve ser concluída em meados de 2021. A unidade é uma das seis sedes mundiais a receber o SAP Leonardo Center, área global destinada a desenvolver soluções voltadas à digitalização e inovação, utilizando tecnologias como Internet das Coisas (IoT), Machine Learning, Analytics, Big Data, Blockchain, Cloud e Data Intelligence. É lá que são desenvolvidos produtos tecnológicos para melhorar o agronegócio em todo o mundo. Outra vertente do Labs da SAP em território gaúcho é para tecnologia do esporte, usado por clubes para melhorar a performance de atletas e até o contato com torcedores. Uma parte do SAP Match Insights, usado pela Federação Alemã de Futebol, foi criado no Brasil. A aplicação de big data permite o processamento de informações sobre jogadores em treinos e jogos para melhorar o desempenho individual e coletivo. Podemos dizer que uma parcela do 7 a 1 da Alemanha sobre o Brasil na semifinal da Copa de 2014 foi culpa dos engenheiros brasileiros que trabalharam no sistema.

DO SUL AO AGRO Laboratório da SAP em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, gera soluções do agronegócio ao segmento esportivo. (Crédito:Divulgação)

A expansão do SAP Labs Latin America vai absorver cerca de 800 novos funcionários, que vão trabalhar com os atuais 1,2 mil para atuar em novos projetos e incrementar o faturamento global da companhia, que em 2019 foi de 27,8 bilhões de euros – a empresa não divulga recorte regional. No primeiro trimestre deste ano, a alemã obteve 6,52 bilhões de euros, crescimento de 7% em receitas totais na comparação com o mesmo período do ano passado. Nas receitas das soluções em nuvem, o resultado foi 27% superior, concentrados principalmente na oferta de aplicações de SAP Qualtrics e SAP Customer Experience, que reúnem sistemas de relacionamento com clientes, e-commerce e marketing cloud. “Até 2005, a SAP tinha um portfólio complexo. Para colocar um software em funcionamento em uma empresa demorava semanas. Com a migração para nuvem ficou mais simples, ágil e prático”, diz Diogo Lupinari, CEO da Wevo, especializada em soluções de plataformas integradas.

A linha de produtos de Digital Supply Chain e SAP Ariba (gestão de fornecedores) também registraram aumento significativo. O que mostra investimentos das empresas justamente em setores de vendas e melhorias de processos logísticos e de suprimentos para encarar os desafios atuais e de pós-pandemia. Muruzabal, da SAP, diz que o mercado obviamente sofreu impacto. “Agora as empresas estão começando a construir uma visão do novo normal”, afirma. “Significa uma administração mais sofisticada do que no passado”, acrescenta o executivo. Cristina Palmaka, que nesta semana foi alçada de presidente da SAP Brasil para o comando da empresa na América Latina, diz que “todos os processos atuais foram questionados”. Ela resume: “Aceleramos anos.”

INTEGRAÇÃO Durante a pandemia, a SAP desenvolveu 700 projetos na América Latina, onde alcançou alta pelo 19º trimestre consecutivo nas soluções em nuvem na casa dos dois dígitos. No Brasil, um dos mais importantes foi o do Assaí, um dos maiores distribuidores atacadistas do País. O desafio foi integrar processos de sua cadeia de 160 lojas e 40 mil funcionários. Neste momento de Covid-19, o laboratório de exames Fleury recorre à solução Qualtrics Remote Pulse para se manter conectado com seus funcionários que estão em home-office. Dos 1,2 mil colaboradores dos setores administrativos da empresa, 98% trabalham em casa. A ferramenta possibilita à companhia questionar como está a saúde física e psicológica dos funcionários, além de saber se os processos implementados funcionam na prática. O CEO do Grupo Fleury, Carlos Marinelli, diz que a diferença é evidente. “Sentimos de fato o pulso da organização”, afirma. “Com a ferramenta, as pessoas podem expressar o que estão pensando e sentido”, afirma. Alguns 7 a 1 até que são a favor.