Em abril de 2013, quando Abilio Diniz assumiu a presidência do Conselho de Administração da BRF, a promessa era levar a companhia criada quatro anos antes, a partir da fusão entre a Sadia e a Perdigão, a um novo patamar. Dentro do plano do empresário, uma das metas era dobrar o valor de mercado da operação, para R$ 80 bilhões, em um horizonte de cinco anos. Para tornar realidade esse plano ambicioso, Abilio contava com o apoio da gestora de recursos Tarpon, uma das principais acionistas do grupo. Juntos, os dois parceiros convenceram os demais investidores, como os fundos Petros e Previ, a embarcar nessa jornada e passaram a ditar as regras do jogo na BRF.

No dia 31 de agosto, no entanto, um dos pilares dessa parceria e dessa composição se desfez. Após o fechamento do mercado, a BRF anunciou o início do processo de sucessão de seu CEO global, Pedro Faria, que seguirá no cargo até dezembro deste ano. Sócio da Tarpon e um dos patrocinadores da chegada de Abilio, o executivo estava no posto desde janeiro de 2015. “Nós consideramos, conjuntamente, que o momento de contribuição valorosa do Pedro à BRF como CEO está concluído”, escreveu Abilio em carta divulgada após o comunicado.

Apesar do discurso, Faria vinha sendo questionado desde o início do ano, quando a BRF reportou um prejuízo de R$ 372 milhões em 2016, o primeiro de sua história. Em 2017, o cenário se agravou. A empresa acumulou uma perda de R$ 448 milhões no primeiro semestre. “O Abilio tentou segurá-lo até o último momento. Mas as pressões feitas pelos fundos Petros e Previ tornaram a situação insustentável”, diz uma fonte próxima à companhia. Petros e Previ detêm fatias de 11,41% e 10,67% na BRF, respectivamente. “Há uma boa probabilidade, no entanto, de o Pedro assumir um assento no Conselho”, acrescentou a fonte.

Alguns fatores ajudam a explicar a queda da BRF. A escolha de nomes do mercado financeiro e sem experiência na agroindústria para substituir executivos veteranos de casa é um dos principais equívocos apontados. “A cabeça de um executivo financeiro é ganhar dinheiro em todas as oportunidades. Na economia real, isso nem sempre funciona”, diz um executivo do setor. Com essa visão, a empresa investiu em frentes como a redução dos estoques de grãos para fazer caixa. A estratégia impactou fortemente a operação em 2016, quando o preço dos grãos registrou uma alta sem precedentes. Outros fatores afetaram o negócio, como a volatilidade do câmbio, a recessão no mercado interno, e, em março deste ano, o envolvimento na Operação Carne Fraca, da Polícia Federal.

Se os erros cometidos são conhecidos, a escolha do substituto de Faria ainda está longe de um consenso. Uma das poucas certezas do processo, que está sendo assessorado pela consultoria americana Spencer Stuart, é de que o escolhido será um executivo do mercado. Entre os nomes especulados, Antonio Ramatis desponta como um dos favoritos. Ex-CEO da Via Varejo e com passagem recente pelo Carrefour, ele é um dos homens de confiança de Abilio e uma eventual nomeação reforçaria o peso do empresário na definição dos rumos da BRF.

Um candidato que já foi avaliado é Gilberto Xandó. CEO da Vigor e com passagem pela própria Sadia, ele ocupa um dos assentos no Conselho de Administração da JBS. Segundo fontes a par do processo, outro nome ligado à maior concorrente da BRF e que pode entrar no páreo é o de Gilberto Tomazoni. No entanto, o retorno do executivo à operação – ele foi CEO da Sadia entre 2004 e 2009 – teria como elemento complicador o fato de ter assumido, há menos de um mês, o posto de principal executivo da JBS, abaixo apenas de José Batista Sobrinho, patriarca da família Batista. Procurados pela DINHEIRO, BRF, Abilio, Tarpon, Petros e Previ não concederam entrevistas.

À parte das especulações, as fontes consultadas pela DINHEIRO apontam que a provável influência de Abilio na gestão pode ser uma barreira para a escolha do substituto ideal. “Esse componente pode dificultar a contratação de um nome de peso no mercado. Nem todos estão dispostos a se submeter a um papel secundário”, afirma Luiz Marcatti, sócio da consultoria Mesa Corporate. As relações entre os acionistas são mais um elemento de risco. “A história do Conselho da BRF nunca foi de grandes composições, mas sim de conflitos”, afirma uma fonte próxima da empresa. “Previ e Petros estão bem integrados. Mas eles não parecem estar tão alinhados com Abilio”, diz um executivo do mercado, que acrescenta: “Seja quem for o escolhido, a questão crucial é saber, de fato, quem irá dar as cartas na BRF.”