São 10 horas da manhã de mais um dia ensolarado, com temperatura próxima a 40 graus, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, na quinta-feira 26. O tenista suíço Roger Federer, 31 anos, chega com seu agente Tony Godsick ao galpão locado pela filial brasileira da americana P&G para gravar um comercial da marca Gillette – que será usado para divulgar sua participação no torneio de exibição Gillette Federer Tour, que acontece a partir de 6 de dezembro, em São Paulo, organizado pela Koch Tavares. Durante as próximas dez horas, Federer mostrará por que, além de ser considerado o maior tenista de todos os tempos, é também um craque fora das quadras. 

 

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Federer: ”A primeira coisa que digo aos meus patrocinadores é que não dá

para ser o primero do mundo fazendo milhares de coisas ao mesmo tempo”

 

Na gravação, ele veste a camisa da Seleção Brasileira de Futebol e faz embaixadinhas com uma bola. Em outro momento, joga vôlei com uma incrível desenvoltura. O mote da propaganda da Gillette é simples: se Federer fosse brasileiro, qual esporte ele praticaria? “Nunca soube se jogaria tênis ou futebol”, disse Federer, em entrevista exclusiva à DINHEIRO (leia mais ao final da reportagem). “Gostava um pouquinho mais de tênis, porque prefiro estar mais no controle.” Para as mais de 30 pessoas presentes no set de gravação, Federer provavelmente não teria sido um jogador medíocre de futebol.

 

Mas o mundo do tênis tem muito a agradecer a sua decisão de se tornar um tenista. Dono de um estilo elegante, clássico e, principalmente, eficiente, Federer é capaz de sair de um duelo em uma quadra de saibro sem sujar as meias ou de jogar horas seguidas sem demonstrar cansaço – alguns exagerados dizem que nem uma gota de suor pinga de sua testa. Desde que se tornou profissional, em 1998, ele tem demonstrado que gosta sempre de estar no controle – não só nas quadras, como no mundo dos negócios. “Sou sempre eu quem decide sobre os meus patrocínios”, afirma Federer. “Preciso poder dormir à noite, me olhar no espelho e dizer que me sinto bem representando essas marcas.” Não pense, no entanto, que isso interfira em sua vida esportiva. 

 

O tenista estabeleceu todas as principais marcas de seu esporte. Até agora, já conquistou 17 Grand Slams, um feito jamais igualado por outro tenista. Ninguém passou tanto tempo como primeiro do ranking como ele. Nestes 14 anos como profissional ganhou, em prêmios, mais do que qualquer outro companheiro: US$ 73,7 milhões. Só neste ano, incluindo os patrocínios, seus ganhos são estimados em US$ 52,7 milhões. Cada jogo de exibição de Federer não sai por menos de US$ 1 milhão. No Brasil, serão dois. “A primeira coisa que digo aos meus patrocinadores é que não dá para ser o primeiro do mundo fazendo milhares de coisas ao mesmo tempo”, afirma Federer. Eles parecem ter entendido a mensagem de Federer. 

 

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Craque brasileiro: Federer, em Dubai, gravando

comercial para a Gilletttte, da P&G

 

Atualmente, o tenista suíço conta com nove patrocinadores: o banco Credit Suisse, a lâmina de barbear Gillette, a fabricante de máquinas de café Jura, o chocolate Lindt, os carros Mercedes-Benz, a seguradora Nationale Suisse, os relógios Rolex, a marca de materiais esportivos Nike e a fabricante de raquetes Wilson. Todos eles assinaram com Federer contratos milionários. “Gosto de relações de longo prazo com as marcas”, afirma Federer. A Nike, por exemplo, paga a Federer US$ 13 milhões ao ano. A Rolex gastará US$ 15 milhões em dez anos. A Jura, US$ 16 milhões, em sete anos. O Credit Suisse, US$ 20 milhões, em 10 anos. A Lindt, US$ 7,5 milhões, em cinco anos. 

 

E a Wilson assinou um contrato vitalício com o tenista suíço, no qual desembolsa US$ 2 milhões por ano. Todos os valores são estimados pelo mercado. Mas tanto dinheiro assim parece valer a pena. “A raquete utilizada pelo Federer é uma das campeãs de vendas no Brasil”, diz Igor Franulovic, gerente comercial da Wilson no País. “A cada vitória em torneio de Grand Slam, as vendas dão um salto de cerca de 30%.” O poder da marca Federer se reflete na estratégia comercial das empresas. O Gillette Federer Tour é um exemplo. Durante o torneio de exibição, a P&G vai divulgar o Gillette Fusion Pro Glide, um aparelho de barbear com cinco lâminas. 

 

“Para lançar nosso melhor produto, queríamos o melhor tenista de todos os tempos”, afirma José Cirilo, diretor de marketing da Gillette, que participou da negociação, ao lado de Luís Felipe Tavares, da Koch Tavares, para trazer Federer pela primeira vez ao Brasil. Desde o anúncio que o tenista suíço jogaria no País, a repercussão tem sido imensa. Um pacote de ingressos com preços especiais esgotou-se em menos de uma hora. Não há mais tíquetes para os jogos, que serão realizados no Ginásio do Ibirapuera, que tem capacidade para cerca de dez mil espectadores. Além de Federer, outros nomes consagrados como o francês Jo-Wilfried Tsonga, a russa Maria Sharapova, a americana Serena Williams, a dinamarquesa Carol Wozniacki e a bielorrussa Victoria Azarenka participarão do torneio de exibição.

 

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As tacadas de Tavares

 

O empresário e ex-tenista profissional Luís Felipe Tavares, 62 anos, o Ipe, hoje é um adepto do golfe. Não que ele não jogue mais tênis. “É que a partir de certa idade, você perde a eficiência”, diz. Tavares, no entanto, está por trás dos principais eventos do esporte que tornou famoso o catarinense Gustavo Kuerten no País. É a Koch Tavares, fundado por ele e pelo ex-tenista Thomas Koch, em 1972, que organiza o Brasil Open desde sua primeira edição, em 2001. 

 

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É ela também que está por trás do Gillette Federer Tour, em São Paulo, que trará o tenista suíço Roger Federer, considerado por muitos especialistas da área o maior tenista de todos os tempos. “O Brasil está na moda”, diz Tavares. “E isso acaba facilitando e fazendo com que entremos nas rotas dos grandes eventos.” O empresário espera que a organização desse evento, cujo custo estimado é de R$ 50 milhões, possa ser um teste para que o Brasil sedie um torneio ATP 500, considerado um dos mais importantes do circuito mundial.

 

 

“Gosto de relações de longo prazo com as marcas”

 

Em um intervalo das gravações de um comercial para a marca Gillette, da P&G, em Dubai, nos Emirados Árabes, Roger Federer falou com exclusividade à DINHEIRO:

 

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O sr. está envolvido na escolha dos seus patrocinadores ou esse é um trabalho do seu agente?

Sou sempre eu quem decide. É minha vida, minha carreira. Claro que recebo sugestões. Você precisa ter um bom agente para conversar sobre o assunto. Mas a decisão é minha e da minha mulher. E preciso ter um boa sensação no fim do dia. Preciso poder dormir à noite, me olhar no espelho e dizer que me sinto bem representando essas marcas. Tenho orgulho de todas as empresas que represento. Gosto de relações de longo prazo com as marcas, como a Gillette.

 

O sr. de alguma maneira as ajuda no desenvolvimento de produtos e de estratégias?

Dou a minha opinião na criação, mas, na verdade, esse não é o meu trabalho. O meu trabalho é ajudar as marcas, dependendo de como querem usar a minha imagem. E quero que seja uma relação ganha-ganha para todos os envolvidos. Se eles não acreditam que sou a pessoa, não funciona, e é melhor não continuar.

 

Quanto tempo o sr. gasta com seus patrocinadores?

O importante é o tênis continuar a prioridade. A primeira coisa que digo para o patrocinador é que não dá para ser o primeiro do mundo fazendo milhares de coisas ao mesmo tempo. Daí o meu sucesso vai para baixo. Todo parceiro que tive entendeu completamente isso. Mas é importante que os patrocinadores fiquem felizes com o que recebem em termos de tempo.

 

O sr. já ganhou tudo o que um jogador de tênis poderia ganhar. O que o deixa motivado?

Para mim, é o amor pelo jogo. Nunca soube se jogaria tênis ou futebol. Gostava um pouquinho mais de tênis, porque prefiro estar mais no controle. Quando perco, não quero botar a culpa no goleiro ou em outra pessoa. Esse foi o começo. E de repente, já era considerado um dos maiores talentos que existiu. Jamais pensei que seria o número um ou que ganharia um Grand Slam. Honestamente, nunca pensei que seria tão bem-sucedido. Tem sido muito bom para ser verdade. Mas eu fiz funcionar.

 

O sr. também é um dos atletas mais bem pagos do mundo. Como investe o seu dinheiro?

Na Suíça, que é a minha casa, temos bancos incríveis. As pessoas costumam ser cuidadosas. Presto bastante atenção a se tudo está indo bem e diversifico.

 

O sr. tem 31 anos e voltou, neste ano, a ser o número um do mundo. Tem planos para uma aposentadoria?

No momento, não tenho planos de me aposentar. Espero ter mais muito anos jogando. Depois disso, quero passar mais tempo com a minha fundação (a Roger Federer Foundation). Quero estar no tênis de alguma forma. E nos negócios. Tento não pensar tanto nisso, mas sei que estou na segunda metade da minha carreira e quero ter certeza de que terei uma grande vida após o tênis. 

 

 

Colaboraram Rosenildo Gomes Ferreira e Luciele Velluto