Discretamente e na contramão do impacto negativo que a crise provocada pela Covid-19 causou na indústria automotiva, a unidade brasileira da gigante francesa Renault anunciou, no início da semana, investimentos no parque fabril do Paraná para impulsionar as vendas nos próximos 18 meses. O montante previsto é de R$ 1,1 bilhão, dinheiro que será aplicado na produção de cinco modelos e na produção de um novo motor 1.3. A companhia não revelou quais serão as mudanças nas linhas que produz atualmente.

O curto ciclo de investimentos, que irá até o primeiro semestre de 2022, difere do modelo habitual, que gira entre seis e sete anos. Para colocar a mão no bolso a partir de 2023, a montadora não esconde que aguarda o caminho das reformas. Segundo o presidente da Renault no Brasil Ricardo Gondo, “o que se discute é a complexidade da carga tributária, além de altos custos logísticos e de fabricação. Como indústria, estamos lutando contra tudo isso para aprovar novos investimentos no País.”

Além dos cinco modelos, a companhia francesa também irá lançar no mercado brasileiro dois veículos elétricos até o ano que vem. O primeiro deles, a nova versão do Zoe, chega no fim do primeiro semestre. O crescimento desse segmento, na avaliação do presidente da Renault brasileira, também passa por mudanças na política econômica. “Na França e Espanha, há incentivos fiscais. Isso ajuda a impulsionar e precisa estar na pauta de prioridade do governo”, disse Gondo. “O mercado ainda é pequeno e não há política pública para esse tipo de produto”, afirmou, referindo-se aos veículos elétricos.

Gabriel Reis

“O que se discute é a complexa carga tributária, além de altos custos logísticos e de fabricação. Como indústria, estamos lutando contra tudo isso” Ricardo Gondo, presidente da Renault no Brasil.

MEIO AMBIENTE Mesmo sem incentivos, a companhia enxerga um aumento na procura desses modelos por clientes corporativos, como Mercado Livre e DHL, principalmente pelo aumento de ações ligadas ao impacto do meio ambiente. Segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), dos 162.587 automóveis e comerciais leves licenciados em janeiro, 10.456 foram da montadora francesa. Hoje a Renault tem 6,4 mil funcionários diretos e 25 mil indiretos.

Gondo disse que o crescimento significativo do número de casos e de mortes pela Covid-19 no Brasil preocupa, além do risco real de queda no faturamento a partir da maior necessidade de restrição de circulação em boa parte dos estados. “Isso impacta no curto prazo, porque algumas concessionárias já não estão funcionando. O que a gente precisa agora é monitorar, acompanhar e ter equipe capaz de se adaptar e tomar decisões certas”, disse. À francesa, a Renault deixa claro que aposta no País. Falta agora que o País faça a sua parte.