Todo empreendedor bem sucedido enfrenta, em algum momento de sua jornada, um ponto de inflexão. Seja vender ou comprar ativos, expandir ou reduzir a operação, a forma como se encara o período de mudança determina muito mais do que o sucesso da empresa, define o ser humano por trás do tomador de decisões. E com uma dessas jornadas que transborda inspiração, Alcione Albanesi, à época comandando a líder em venda de lâmpadas do Brasil, deu o passo que mudaria para sempre sua história e a forma como se relaciona com o mundo. “Em 2014, tomei a decisão mais difícil e importante da minha vida: vendi uma parte da minha empresa para ter mais tempo e me dedicar ainda mais aos Amigos do Bem.” Desde então está 100% dedicada ao projeto social. Foi essa capacidade de entrega que fez a empresária encarar os desafios da pandemia e manter estendida a mão para as mais de 75 mil pessoas que, mais do que nunca, dependem do projeto que ela lidera.

Para entender como Alcione, eleita Empreendora do Ano da DINHEIRO em Impacto Social, passou da iniciativa privada para o terceiro setor é preciso olhar para trás. Em 1992, ela fundou a FLC, grupo responsável por trazer, popularizar e posteriormente fabricar lâmpadas de LED no Brasil. Um êxito de poucos. Mas pouco para Alcione. Em dezembro de 1993 ela, motivada por sua mãe Guiomar de Oliveira Albanesi, reuniu um grupo de amigos e rumaram ao sertão nordestino. O plano era fazer um Natal diferente para os moradores locais. “O que encontrei por lá mudou a minha forma de ver e sentir o mundo. Me tornou uma pessoa melhor”, disse. Com nascimentos quase simultâneos, os dois projetos da vida de Alcione caminharam lado a lado. Uma vida dividida em duas operações que cresciam e que precisavam ser equilibradas também com a vida familiar e os desafios do dia a dia. “Por muito tempo conciliei o trabalho à frente de uma empresa e de um projeto social, mas com o passar dos anos, os projetos realizados pelos Amigos do Bem se tornaram cada vez maiores”, afirmou ela, dizendo que antes de vender uma fatia da empresa, já estava em um ritmo de dez dias por mês passados no sertão. “Percebi que não poderia manter essa rotina sem prejudicar a empresa. Foi uma decisão bem difícil, porém necessária.”

E a experiência que a cadeira de presidente e fundadora trouxe foi adaptada a esse novo momento. Segundo Alcione, 100% do knowhow da empresária ficou dedicado a transformar vidas. “Ao longo desses 28 anos de jornada, mapeamos as regiões mais carentes, os povoados com maior potencial de plantio criando projetos específicos.” Hoje, os Amigos do Bem atua em três frentes operacionais. Programas sociais (que abrange água, alimentação, desenvolvimento humano e moradia); socioeducacional (centro de transformações, cursos profissionalizantes e bolsas de estudos) e geração de trabalho e renda (com plantações e distribuição de caju e pimenta, fábricas de beneficiamento de castanha e doces de pimenta, além de oficinas de costura e artesanato). São mais de 15 mil famílias beneficiadas em 140 povoados em Alagoas, Ceará e Pernambuco. “Nós temos as mesmas exigências de uma empresa, só que com os ingredientes do amor”, disse. Os Amigos do Bem têm indicadores de resultados, planejamento operacional e planos de expansão, tudo auditado pela EY. “Hoje o trabalho apresenta uma complexidade equivalente à de uma empresa de grande porte.” Com 10 mil voluntários, a empresa teve em 2020, quase R$ 77 milhões em receitas, entre doações e venda de produtos.

FATOR COVID Tudo isso no ano em que a pandemia mudou as relações humanas e evidenciou o quanto precisamos caminhar em busca de uma sociedade mais igual. Para atender esse momento ímpar, Alcione precisou acionar a empresária e pensar em uma solução para a crise. Redesenhou a logística, adaptou processos, instaurou novos protocolos e agiu para que a chegada das doações não perdesse ritmo. “Na crise, tudo parou. Mas a fome não para, ela é uma batalha diária e com a pandemia esse quadro se agravou”, disse. Mesmo com as restrições, Alcione nunca deixou de lado a presença no sertão, e o que viu por lá não foi fácil “A fome e a miséria se agravaram muito no sertão nordestino. Só me lembro de vivenciar tanta miséria assim em 1993.” De cabeça erguida, com uma equipe de excelência e a mesma força da mulher que enfrentou o fechado mercado de lâmpadas para iluminar o Brasil, Alcione ajuda a levar a luz do pós-pandemia para o sertão.

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