O Opportunity de Daniel Dantas sempre tirou boa parte do seu gás da relação quase matrimonial com os fundos de pensão das estatais ? Previ, Petros, Telos e Funcef, entre outros. Parecia um casamento perfeito. A companhia e as fundações participaram de leilões de privatização do setor elétrico, da siderurgia e das telecomunicações. Nas últimas semanas, porém, o matrimônio lembra a situação do casal que bate-boca aos gritos na porta de casa. Os vizinhos já acompanham tudo da janela, curiosos para saber quem vai bater a porta e mandar o cônjuge dormir no flat.

O diretor de um fundo de pensão diz que a crise explodiu numa reunião no dia 14 de junho. Para ter o controle das companhias das quais participa, o Opportunity cria complexas árvores societárias, formadas por várias empresas-casca. Os fundos de pensão reclamavam das despesas administrativas muito altas dessas companhias. Falou-se do fundo CVC, criado para participar das privatizações, que teve um aumento de capital no ano passado. Ele poderia ter sido feito mediante um simples aporte por parte dos sócios, mas o banco preferiu captar o dinheiro através de uma emissão de debêntures, da qual foram cobradas comissões. Operações como essas, somadas à remuneração de alguns executivos dessas empresas, drenaram R$ 10 milhões dos fundos de pensão para o Opportunity no ano passado. Outro problema era a contratação do publicitário Mauro Salles para, em nome do grupo, intermediar a compra da CRT. O negociador, indicado pelo banco, receberia comissão de 20% sobre o desconto obtido ? dez vezes mais que o normal nesse tipo de transação. Os fundos pediram a destituição de Salles, que só aconteceu semanas depois (evitando o pagamento de outros R$ 10 milhões). O Opportunity se defende. ?Gastos administrativos sempre existem. O importante é que estamos administrando bem e tendo bons resultados?, diz um diretor do banco, Carlos Rodenburg.

A reunião de junho, porém, revelou algo que irritou ainda mais os representantes das fundações. Quando discutiam uma das empresas-casca, a Opportunity Zain, foram informados que ela fez investimentos em uma companhia que tem participação na Telemar. Assim, os fundos de pensão participam da Telemar e da Brasil Telecom, duplicidade vetada pela Lei das Telecomunicações, e que já deu origem a uma investigação da Anatel. ?Nos colocaram na ilegalidade?, reclama um administrador de fundo. Rodenburg, do Opportunity, garante que a operação é perfeitamente legal: ?Não seríamos malucos de praticar uma irregularidade?. De qualquer maneira a prestação de contas do fundo CVC nacional, que deveria acontecer até o mês passado, não foi feita até agora ? a reunião para isso foi marcada para agosto.

Segundo um diretor da Previ, a briga só foi parar na Justiça porque descobriu-se que uma representante do JP Morgan em Nova York, Michele Gaufin, oferecera a investidores a Telemig Celular e a Tele Norte Celular, das quais os fundos são sócios. Carla Cicco, consultora do Opportunity, teria feito o mesmo no Brasil com uma operadora estrangeira. O banco nega a operação, mas os fundos de pensão e o outro sócio, a canadense TWI, foram à Justiça pedindo uma liminar para impedir a venda sem sua autorização ? que, na estrutura societária armada pelo banco, era possível. Conseguiram liminares favoráveis. Instaurada a guerra, os sócios agora se queixam publicamente do banco. Dizem que, aproveitando-se do controle que obtém nas companhias, ele ?empurra? para os clientes negócios que não são necessariamente interessantes. Como as participações do IG, repassadas à Tele Centro-Sul e à Telemar, e do Radix, recusada pelo conselho da TCS. Informado sobre as acusações, um diretor do Opportunity enfureceu-se: ?Todas as operações que fizemos aumentaram o valor da participação dos fundos de pensão. Chega a ser estranho que se posicionem contra elas?, insinua. Mas os diretores das caixas de previdência ainda acusam o banco de ?esquecer? acordos feitos em reuniões anteriores, no momento de redigir contratos.

Preocupado com a deterioração da relação com os parceiros, e com aquilo que dentro do banco foi chamado de ?tentativa de takeover hostil? por parte da TWI nas empresas de celular, Dantas trocou o negociador oficial, Arthur Carvalho, por Roberto Sena, ex-Odebrecht. Não adiantou. As reuniões individuais pedidas com representantes dos caixas de previdência foram negadas. Eles decidiram que, a partir de agora, só negociam em grupo, para evitar intrigas. Sem a presença do banco eles já prepararam, e guardam na gaveta, um acordo de acionistas para Tele Norte Celular e Telemig Celular. Só esperam o momento certo para jogá-lo sobre a mesa.