No início de 2016, o empresário Alberto Hiar, o dono da grife Cavalera, comprou a marca Zoomp em um leilão judicial. Arrematou a icônica grife por R$ 20 milhões e prometeu resgatar os áureos tempos para a marca criada por Renato Kherlakian em 1974. Mas a tarefa de Hiar não tem sido fácil. Nesse meio tempo, o Global Capital, controlador da empresa, atualmente em recuperação judicial com dívidas que superam R$ 100 milhões, tentou – e ainda tenta – melar o negócio. O fato é que, nos próximos dias, a Zoomp voltará com força total ao mercado. “Eu comprei um ativo, que é a marca”, diz Hiar. “Ela é muito forte e muito lembrada pelas pessoas.” Em cinco anos, diz ele, o plano é faturar R$ 150 milhões. Hiar falou com a coluna sobre o retorno da grife do raio:

A Zoomp volta neste fim de semana?
Na verdade, existem duas etapas para o lançamento de uma marca de moda: o atacado e o varejo. Ela foi apresentada no atacado em janeiro. Agora, ela chegará às lojas. A ideia era fazer um grande evento, mas, por conta da crise, abortamos.

E como vai ser esse lançamento?
Vamos lançar o que considero o primeiro fashion filme brasileiro. Contratamos a Anna Cleveland, filha da Pat Cleveland, musa do Salvador Dali.

Onde será veiculado esse vídeo?
Nas redes sociais, no Vimeo, no YouTube, Instagram. Feito pela Vice, ele dura em torno de 20 minutos e custou cerca de R$ 700 mil, e traz uma das modelos mais influentes da moda mundial. Tem chuva, trovão, uma megaprodução envolvida nisso. Ele é como um trailer de um filme que mostra uma mulher em busca de algo para sair da monotonia, um raio antimonotonia. No meio da chuva, quando surgem os raios, ela diz que a Zoomp voltou. Primeiro vamos gerar um desejo pela marca, criar mais produtos, para depois fazer um grande lançamento.

Quais produtos a marca venderá inicialmente?
Mais de 70% serão jeans e o restante composto por vestidos de seda, jaquetas de couro, calçados masculino e feminino. Depois teremos perfumes, relógios e óculos.

Como será feita a distribuição?
Estaremos em 250 butiques no Brasil.

Não há previsão de loja própria?
O mercado está atípico, ninguém sabe se o Brasil caiu tudo o que tinha de cair, ou se vai voltar a crescer. Temos uma economia do nível de 2010 e shopping centers que não se adaptaram à realidade do mercado nacional. Entendemos que eles não baixaram os preços dos aluguéis e que, em algum momento, baixarão. Acho que o empresário brasileiro tem de fazer um pouco mais de conta. Não é a hora de investir.

Mas a sua empresa está investindo…
Quando compramos a marca, num leilão, de uma empresa que estava em processo de recuperação judicial, o Brasil era outro país. O Brasil mudou muito em dois anos, tivemos uma queda do PIB muito grande.

O investimento foi alto para trazer a Zoomp de volta?
Nossa proposta pela marca foi de R$ 20 milhões. Pagamos R$ 5 milhões e o restante ainda vai vencer.

Vence quando?
Na nossa proposta, seriam R$ 5 milhões de entrada e o restante em seis meses, após transitado e julgado o processo. Ainda não foi transitado e julgado, mas, para tirar algumas dúvidas do Judiciário, depositamos esses R$ 5 milhões. Agora queremos saber qual é o entendimento da segunda parcela. Eles (Global Capital, antigo dono da marca) entraram com recurso. Mas achamos muito difícil perdermos, pois esse dinheiro foi distribuído aos credores.

Não foi arriscado investir em uma marca que estava sendo leiloada?
Fui corajoso, mas o meu coração falou mais alto do que a razão.

A marca ainda é forte?
Contratamos uma empresa para fazer uma pesquisa de imagem e a Zoomp está na 11a posição entre as marcas de moda mais lembradas do Brasil, mesmo depois desse ostracismo todo.

E a disputa com os antigos donos, da Global Capital, como está?
Eles alegam que a venda foi feita de maneira ilícita, mas foi aprovada em assembleia, pela maioria dos credores. O próprio Tribunal de Justiça me deu ganho de causa por três vezes. O processo foi muito transparente. Quando você participa de um leilão, tem um membro do Ministério Público, um membro da Justiça presente. Não é que você vai lá, reúne seus amigos e quem levantar a mão ganha.

Nesse meio tempo, como a marca ficou?
Quando eles perceberam que haviam perdido, que pagaríamos os R$ 5 milhões, eles acabaram autorizando, sem poder, várias empresas a fabricar peças da Zoomp, calças de qualidade ruim. Agora estou indo atrás disso. A própria lei de propriedade industrial diz que duas pessoas não podem fabricar a mesma marca. Descobri casos de uma grande rede de varejo, fabricantes no Brás e no interior de São Paulo que produziram peças Zoomp e estão vendendo no mercado. Estou entrando na Justiça para ter o direito de busca e apreensão.

Quais são os preços dessas calças que estão no mercado?
São vendidas por menos de R$ 100. As minhas partem de R$ 350 e vão até R$ 700.

Essa disparidade prejudicou a marca?
Claro que prejudicou. Tenho clientes que não compraram as minhas peças porque eles sabem que no mercado existem peças Zoomp de má qualidade vendidas por R$ 99. Estamos entrando com ação contra os varejistas que compraram, depois contra quem fabricou e depois partiremos contra quem autorizou.

(Nota publicada na Edição 1009 da Revista Dinheiro, com colaboração de: André Jankavski e Vera Ondei)