O presidente eleito não quer deixar margem a dúvidas para ninguém. Ele, em pessoa, segundo diz, é quem assumirá a coordenação econômica do País. Colocará, naturalmente, alguém no posto de ministro da Fazenda, mas que traçará as diretrizes conjuntamente com ele. Foi o que avisou dias atrás. É por sua própria determinação, por exemplo, que o espaço para gasto em 2023 na PEC em negociação no Congresso deve vir a se situar em um patamar não inferior a 19% do PIB — nível de despesas semelhante ao praticado atualmente pelo governo Bolsonaro. Lula sinaliza que não seguirá o caminho de confronto com o Congresso. Prega o diálogo, mas dentro dos parâmetros que contemplem seu programa de governo, e diz que fará pessoalmente esse trabalho de aproximação e das conversas. O número final da PEC ditará muito dos rumos e da narrativa do programa social que os negociadores políticos do presidente tentarão implantar no Brasil a partir de janeiro de 2023. O futuro mandatário diz a interlocutores estar também preocupado em mostrar saídas que tragam a sustentabilidade fiscal como fundamento, porém em um novo arcabouço, sem desviar da meta de resgate das populações menos favorecidas, alvo prioritário do seu projeto. Uma das ações paralelas que tenta discutir é a da mudança tributária, contemplando revisões de faixa de taxação por nível social. Na prática, Lula está chamando para si o controle direto da política econômica. Sabe o que quer fazer e tem dito a quem pergunta. No íntimo, está pouco preocupado com as tais reações nervosas do “mercado”. Não é a ele que quer agradar nos próximos quatro anos que, promete, serão os últimos de sua gestão no Planalto. Costurando alianças que viabilizem a essência dos recursos para a empreitada. Lula encarou como natural a necessidade de apoiar o nome de Arthur Lira para a reeleição na Câmara. Em paralelo, no entanto, passou a atuar junto ao STF para que o famigerado Orçamento Secreto — pedra de toque e instrumento de negociação e pressão ao deputado para ele ceder na PEC dos gastos — fosse julgado como inconstitucional. Habilidoso no trato, o demiurgo de Garanhuns busca fugir das cordas e evitar o jogo de pressões ao qual foi submetido o seu antecessor, Bolsonaro. Decorre dessa mixagem entre política e economia a necessidade da escolha de um titular da Fazenda que exiba habilidades em ambos os campos. Lula acredita que um ministro essencialmente técnico, mas sem qualificações para o pesado embate com os parlamentares não será bem-sucedido neste momento do País. Alguém com a natureza do seu antigo colaborador Palocci é o modelo, referência que vem perseguindo, apesar das queixas dos representantes do capital. O presidente busca estabelecer uma agenda de entendimentos que não desidrate as promessas de campanha. As resistências à ideia de colocar na Fazenda alguém de sua estrita confiança para essa missão parecem estar diminuindo. De alguns representantes do capital ele recebeu a indicação de que importa menos o nome do ministro e mais os rumos que se pretende adotar. Aos poucos, Lula vai exibindo a decantada habilidade para conquistar apoios. Tem dado, nesse sentido, garantia pessoal de que atuará respeitando as normas para cumprir o compromisso com a causa social que deve aos eleitores. Antes mesmo da posse, sua missão está traçada: ser o guardião da estabilidade econômica e dos avanços políticos empenhando o próprio prestígio.

Carlos José Marques
Diretor editorial