Um dos hábitos mais caros aos brasileiros nas tardes de sexta-feira, o happy hour vai começar a pesar mais no bolso. O preço da tradicional cerveja tem data marcada para subir, não só em 2012, mas uma vez por ano até 2015: todo dia 1º de outubro haverá reajustes de 6,25% para ampliar a base de cálculo de IPI, PIS e Cofins. O modelo repete o aplicado à indústria de cigarros, que verá sua carga tributária subir de 62% para 70% no mesmo período. Elevar a tributação dos itens considerados supérfluos foi a fórmula escolhida pelo governo para equilibrar a arrecadação, afetada pelo pacote de incentivos à indústria, que representa uma renúncia fiscal perto de R$ 27 bilhões, neste ano. 

 

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Diversão tributada: a partir de outubro, beber e fumar ficará mais caro.

 

Em reação, as grandes fabricantes de bebidas anunciaram que suspenderão investimentos de R$ 7,9 bilhões para ampliar a produção nos próximos anos. Trata-se de um impasse, num momento em que o setor vê o consumo cair 2,2% entre janeiro e abril (leia quadro). “O mercado já estava retraído”, diz Paulo Macedo, diretor da CervBrasil, entidade criada para representar AmBev, Heineken, Schincariol e Petrópolis. Na semana passada, a CervBrasil pediu uma nova rodada de conversas com o Ministério da Fazenda – foram três reuniões nos últimos 60 dias. 

 

Compensar a perda de arrecadação às custas de uma ampliação da carga de outros setores está gerando controvérsias. “É uma contradição desonerar carros, que são acessíveis para poucos, e onerar um produto consumido por todos”, afirma o tributarista Richard Dotoli, do escritório Siqueira Castro. Para Luciano Rostagno, estrategista-chefe do banco WestLB, a medida poderia ter sido evitada. “Se a carga tributária fosse menor e mais simples, não precisaria onerar um setor.” Inevitável mesmo, só aquilo que o boêmio não gostaria de ouvir: é ele quem vai pagar a conta.

 

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