06/05/2022 - 4:10
A lerta de spoiler: a nova maneira de entretenimento no mundo, o streaming, não vai acabar. Mas a forte concorrência que se inicia em 2022, já sem o fator pandemia amplificando assinaturas, começa a forçar mudanças — algumas, no coração dos negócios. A notícia de que, pela primeira vez, a líder no setor de filmes e séries, Netflix, havia perdido 200 mil assinantes no mundo, acendeu um sinal vermelho na plataforma. Isso, apesar de ela ter ainda o expressivo número de 221,8 milhões de usuários. Enqaunto isso, a “novata” HBO Max, que começa a abrir seus braços pelo mundo, publicou os resultados financeiros do primeiro trimestre de 2022. Teve crescimento de 3 milhões de assinantes (juntando a irmã linear HBO). Esse, curiosamente, era o número que a Netflix projetava para si mesma em relatórios oficiais de 2021. Não alcançou.
A HBO Max tem 76,8 milhões de assinantes. Isso não faz dela a segunda, nem a terceira colocada no mercado, posições ocupadas por Amazon Prime Video, com 200 milhões, e Disney+, com 129,8 milhões. “Nossa meta era 2,5 milhões de novos assinantes em 2021 e não chegar a isso nos forçou a nos perguntarmos: ‘O que está acontecendo?’”, disse o cofundador e CEO da Netflix, Reed Hastings. Assim como os números de audiência (que raramente são revelados e não são auditados externamente), os de novos espectadores são acompanhados em tempo real. A Netflix percebeu que a curva não estava boa. “É o nosso momento de brilhar”, afirmou o executivo, assumindo mudanças e conhecimento da insatisfação dos investidores. As ações da Netflix caíram 35%, sumindo com US$ 50 bilhões em seu valor de mercado, após o anúncio. Até quarta-feira (4), ainda estava lá embaixo.
“Sei que são números decepcionantes para nossos investidores, mas estamos entusiasmados internamente com a batalha à frente” Reed hHstings Cofundador e CEO da Netflix.
NÃO PAGANTES O compartilhamento de assinaturas é uma característica que a vista grossa de Hastings exigirá enxergar com mais carinho. Se você tem uma assinatura e a divide com sua família ou algum amigo, provavelmente esses espectadores não pagantes — não se sabe esse número ao certo — possam ser esses 200 mil assinantes que a Netflix perdeu. E mais alguns milhões. A conta é simples e a missão agora é monetizar esse compartilhamento, algo que a empresa pensa fazer há alguns anos, mas não achava necessário até agora, já que crescia muito rapidamente. Não custa lembrar que estamos falando da líder, e com folga, no segmento. Para a plataforma, esses espectadores já assistem à Netflix, gostam do serviço e terão de pagar algo por isso. Atualmente, nos EUA, os planos custam de US$ 9,90 a US$ 19,90, dependendo do número de telas ao mesmo tempo. Houve um aumento de preço, mas a Netflix informou que isso não teve impacto nos resultados do primeiro trimestre de 2022. Será? No Brasil, os planos partem de R$ 25,90 e podem, chegar a R$ 55,90. Ainda é vantajoso, sobretudo na comparação com o aluguel de um único filme do serviço Now, da Claro, em torno de R$ 18. Mais, se for lançamento.
Agora vem o segundo episódio das mudanças. Criar um novo modelo de assinatura, mais barato, justamente para pegar essa “carona” que talvez tope, finalmente, pagar um pouquinho pelo streaming — pois do contrário não vai ver nada. E a ideia é implementar uma assinatura mais barata com publicidade no meio do conteúdo. Aumentar o price spread, como os executivos da Netflix gostam de rotular. “Por mais que não seja fã disso, colocar publicidade no conteúdo, pois sempre fui a favor da simplicidade da assinatura, na verdade sou mais fã da ‘escolha do consumidor’”, disse o fundador. Para ele, é permitir a adesão de consumidores que querem pagar menos e são tolerantes quanto à publicidade, quase como a TV aberta. “Nossos concorrentes, como Hulu e Disney+, já fazem isso, não é uma questão se funcionam ou não. Sabemos que funciona”.
CONTEÚDO IMPORTA Essas mudanças devem ser implementadas em um ou dois anos. Mas se não correrem, terão de se desculpar com os acionistas novamente em 2023, pois a concorrência está aí. Ted Sarandos, co-CEO da Netflix, admite a alta competição: “Como melhorar o conteúdo, que é algo que já fazemos há uma década?”. Não faz muito tempo, ele explica, estavam se debatendo sobre como monetizar o mercado com pequenos filmes de arte. Hoje, lançam alguns dos mais assistidos e populares filmes do mundo — e até premiados, como o que ganhou este ano o Oscar por melhor direção, Jane Campion, com Ataque dos Cães. A HBO Max pontuou alto com a estreia de The Batman no mês passado, e terá blockbusters da Warner ao longo do ano. Disney tem séries baseadas em Star Wars mês sim, mês não, além de filmes e séries da Marvel, que comprou. E a Netflix?
“Tivemos Squid Game [Round 6], que foi um fenômeno, talvez a série mais assistida de todos os tempos. Teremos agora a nova temporada de Stranger Things, em que cada episódio parece um longa- metragem”, disse Sarandos. A Netflilx criou o conceito de “maratonar”, soltando tudo de uma vez. Isso continua, enquanto ela trabalha seu próximo roteiro.