Do ponto de vista da garantia de uma estrutura técnica mínima no governo, a permanência do recém-empossado André Brandão na presidência do Banco do Brasil é tida hoje em Brasília como um divisor de águas. Desde o início, o mandatário Bolsonaro não gostou da profissionalização imposta por Brandão – oriundo da iniciativa privada – no banco. Queixou-se dele por recusar indicações políticas e de desalojar quadros aliados do Planalto. Dias atrás, as diferenças alcançaram o grau de ebulição máximo e Brandão ficou por um fio. Sua demissão chegou a ser anunciada. Ministros de diversas pastas, a começar pelo próprio Paulo Guedes, vieram em socorro. A fritura seguiu o curso. A ministra Tereza Cristina, da Agricultura, foi outra que entrou em campo a seu favor. Além do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Bolsonaro não havia gostado nada da ideia de fechamento de agências e do corte de pessoal empreendido por Brandão, que buscava assim dar eficiência, reestruturando por completo a instituição, com o desligamento voluntário de 5 mil funcionários e o cancelamento de 361 pontos de atendimento. O mandatário enxergou na medida um fator de enfraquecimento de sua imagem junto ao público de servidores que lhe dão apoio político. Brandão, por sua vez, que já dirigiu o HSBC no Brasil, enxerga a mudança pelo lado prático dos resultados. Não arredou pé do plano e o clima, embora abafado, continua tenso de lado a lado. O peso decisivo na balança veio dos acionistas minoritários que ameaçaram responsabilizar judicialmente a União em casos de prejuízos na instituição. No âmbito do Planalto, Brandão ainda não é carta fora do baralho para não contrariar o time de ministros mais respeitados do governo. Bolsonaro abriu muitos campos de batalha e tem colhido derrotas em quase todos eles – especialmente no dá vacina. Cabeças mais coroadas como a do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, e a do chanceler Ernesto Araújo, tem sido constantemente cobradas pela notória ineficiência que eles demonstram nos respectivos cargos. O capitão, todos sabem, não se importa muito com a competência de cada um – vide o que ocorreu lá atrás com os então ministros Luiz Mandetta e Sergio Moro. Seu foco é na fidelidade ideológica dos assessores. Pensando como ele, estão garantidos. O grande problema é que essa ideia de nivelar por baixo a qualificação dos quadros tem cobrado um preço alto. O próprio mandato do presidente tem ficado em xeque pelas constantes derrapagens administrativas em diversas áreas. No Banco do Brasil, por sua vez, um modelo de arrumação dentro do figurino liberal, empreendido por Brandão, tem sido elogiado pelo mercado. A saída do titular do Banco em meio a uma boa transformação geraria mais um ruído danoso contra as aspirações eleitorais do mandatário. O destino do executivo será selado pelas circunstâncias – ou por vontade dele mesmo que, a qualquer hora, pode resolver pedir o boné.

Carlos José Marques diretor editorial