Na verdade, trata-se de um desafio mortal de imagem, como bem classificou o economista José Roberto Mendonça de Barros. E a questão chave para tamanho problema está na condução desastrosa da política ambiental brasileira que vem, às vistas do governo e com o beneplácito do próprio mandatário, deixando avançar sem controle as práticas criminosas de desmatamento e queimadas. O combate a tais ameaças virou uma quimera. O jogo de cena federal misturado à burocracia proposital para a adoção de medidas agrava o quadro. O presidente e sua equipe tentam agora atenuar o desgaste. Chamaram para o diálogo empresários e investidores dos fundos internacionais, que estavam reclamando, com razão, do descontrole na proteção ambiental, para explicar e prometer futuras ações. Falou-se em decreto que autorizou a fiscalização pelas Forças Armadas para o combate aos focos de incêndio. Foi reiterada uma mudança de postura e até compromisso de selar a paz com interlocutores estrangeiros, para evitar prejuízos ao agronegócio. Mas nada disso deixou a firme convicção de que a atual gestão irá mesmo mudar de postura. Ao contrário. No tocante às tropas militares, prometidas desde janeiro deste ano, quando o vice-presidente Mourão foi recrutado para tratar diretamente do tema, elas não estarão constituídas antes do ano que vem. O agronegócio, nesse caldeirão de tensões, é, indiscutivelmente, o maior prejudicado. As chances de retaliações ao comércio de nossas commodities crescem dia a dia. E justamente nesse momento em que o Brasil volta a assumir a liderança mundial em produção de soja, por exemplo. O presidente Bolsonaro não parece disposto a ceder em suas convicções e elas incluem uma vista grossa ao avanço de garimpeiros e grileiros em terras indígenas, além de pseudo produtores rurais, que servem de posto avançado no território que Messias jamais aceitou ser tão vasto em favor das tribos. O climão entre empresários, investidores e a equipe do Planalto permanece onde estava. Ainda não foi completamente digerida a ideia levantada pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, de querer “passar a boiada” de legislações que estimulariam a exploração descontrolada. Aliás, sua infeliz expressão e intento foram assuntos de reunião na ONU, na qual participantes do Conselho de Direitos Humanos questionaram o que entendem como o desmonte de políticas ambientais por parte do governo. É de surpreender que Bolsonaro, ministro e auxiliares não percebam o grau de estrago que a gestão ideológica nesse campo vem causando a mais promissora atividade produtiva do PIB nacional, que é o agronegócio. Para um País que se diz pulmão verde do planeta e celeiro de alimentos do mundo é um contrassenso provocar os clientes dessa riqueza.