Juros nas alturas. Inflação acumulada elevada. Câmbio oscilante. O mundo dos negócios gira no embalo da economia global. A multinacional brasileira Iochpe-Maxion não quer perder o ritmo e tem rodado o portfólio de produtos de acordo com o movimento dos mercados onde atua, nos cinco continentes. O objetivo da maior fabricante de rodas do planeta está definido: ampliar a participação em determinadas regiões e segmentos. Uma forma de contribuir para a manutenção da trajetória ascendente que resultou em um faturamento de R$ 16,9 bilhões em 2022, 23,8% maior na comparação anual. “A nossa receita cresceu de um patamar de R$ 6 bilhões a R$ 7 bilhões em 2015 para quase R$ 17 bilhões no ano passado”, afirmou Marcos Oliveira, CEO da Iochpe-Maxion. “É um crescimento contínuo médio de 13,8% nesse período.”

A Maxion produz aproximadamente 50 milhões de rodas por ano para veículos leves e comerciais. O segmento representa 73% da receita líquida. “Somos o maior fabricante de rodas automotivas do mundo”, disse o executivo. Uma trajetória e tanto para a companhia fundada em 1972, no Rio Grande do Sul, e que é responsável também pela fabricação de componentes estruturais (longarinas, travessas e chassis), com forte presença nas Américas do Norte e do Sul. O setor responde por 27% do faturamento líquido. Em comum às duas divisões o fato de os produtos oferecidos no portfólio estarem presentes em veículos com motores de combustão interna e elétricos.

A proposta principal é clara: suprir a demanda dos mercados mundiais. E potencial industrial não falta à companhia. São 32 fábricas em 14 países e mais de 17 mil funcionários. Uma capacidade interna muito sólida, de acordo com Oliveira, para fazer o lançamento de produtos de expansão e de capacidade contínua. “Lançamos rodas ou componentes estruturais todos os anos globalmente. E não é um ou dois, são centenas de produtos”, disse ele. A presença internacional, com fabricação local, é vista como fundamental e ajuda a empresa a mitigar a volatilidade. “Quando o mercado brasileiro está caindo, por exemplo, o europeu está subindo. Isso nos permite atenuar as variações negativas que possam surgir em alguma região.”

23% foi o aumento da receita global da empresa no ano passado, para R$ 16,9 bilhões,em comparação aos R$ 13,6 bi de 2021

É a situação vivida na atualidade pela Iochpe-Maxion no País. Apesar de a América do Sul, em especial o Brasil, responder por 30,5% da receita global de 2022, a empresa sente o reflexo das paradas nas montadoras diante da queda na demanda por veículos. Aproximadamente 5 mil trabalhadores da unidade de Cruzeiro, no interior paulista, enfrentam diminuição de jornada e de salário como reflexo da redução de 35% na produção de pesados no ano. A empresa fornece rodas para ônibus e caminhões, além de chassis para estes últimos. O CEO estimou que os negócios no segmento vão melhorar no segundo semestre, uma vez que as montadoras ainda têm veículos em estoque devido à transição do Euro 5 para o Euro 6 (controle de emissões). “Temos trabalhado para administrar esse primeiro semestre, o mais desafiador sob o ponto de vista de demanda e de produção. Acreditamos que o segundo será mais positivo.”

Apesar dos percalços, a empresa se diz preparada para atender às necessidades das montadoras pelo mundo. “Nossos grandes centros de produção são Brasil, México, Turquia, República Checa e Índia, mas temos presença também nos Estados Unidos, Argentina, Espanha, Itália, Alemanha, Tailândia, África do Sul e China”, disse. No ano passado, a Europa respondeu por 31% do faturamento da companhia; a América do Norte, por 29%; e a Ásia, por 9%. A empresa prevê crescimento de volumes globais de 5% este ano.

Uma das metas da multinacional é ampliar a presença no continente asiático, especialmente na Índia, onde a elevação chegou a 23% no ano passado. “Índia e China são os mercados que mais devem crescer nos próximos anos. A Índia tem população parecida com a da China, mas produziu 5 milhões de veículos contra 22 milhões dos chineses. Então há um potencial muito importante”, afirmou o CEO. Outro caminho para o incremento dos negócios no continente tem sido acordos comerciais, como a joint venture com a montadora chinesa DongFeng para fornecer produtos para a bandeira e parceiras dela, casos de Nissan, Honda, Hyundai e Kia.

DO BRASIL AO MUNDO Fábrica em Cruzeiro, no interior paulista, é uma das principais da companhia, que possui outras
31 distribuídas pelo planeta (Crédito:Divulgação)

SUSTENTABILIDADE A eletrificação é tema recorrente na empresa. Diante de projeções que apontam a produção de até 46% de veículos elétricos ou híbridos plug-in em 2029, saindo de menos de 5 milhões de veículos em 2021 para quase 40 milhões no final da década, a Iochpe-Maxion investe em novas linhas — como a Bionic (conceito de roda de tamanho grande na América do Norte) — e parcerias, como a anunciada em abril com a Forsee Power, líder francesa especializada em sistemas de baterias inteligentes. A intenção é oferecer a integração de sistemas de bateria para veículos elétricos, principalmente em chassis de caminhões, ônibus e veículos fora de estrada.

A parceria abrange os grandes mercados automotivos mundiais, com estudos em andamento principalmente na região das Américas. Segundo Oliveira, a eletrificação não impacta negativamente a empresa. “O oposto. Abre oportunidades”, disse. É o que a Iochpe-Maxion tem buscado. “Temos focado no desenvolvimento de soluções que proporcionem aos clientes a oportunidade de aumentar sua participação nos segmentos de mobilidade e eletrificação rumo à descarbonização.” A empresa tem uma jornada de sustentabilidade para reduzir em 30% a emissão de CO2 até 2030, além de buscar a neutralidade em carbono até 2040.

A companhia assinou recentemente contrato para produzir conjuntos de peças para veículos elétricos de entregas com a Rivian, startup fabricante de vans elétricas nos Estados Unidos. A multinacional brasileira será assim a responsável pela fabricação dos conjuntos de eixos traseiros das 100 mil vans pedidas pela Amazon, gigante do comércio eletrônico global. As iniciativas da Iochpe-Maxion incluem ainda a expansão da capacidade fabril pelo mundo. A empresa deu prosseguimento à construção de uma fábrica de rodas de alumínio na China, além de ter iniciado as obras de uma nova planta de rodas de alumínio forjado para veículos comerciais na Europa. A Iochpe-Maxion se mostra disposta a participar de todo o ecossistema da mobilidade. E, assim, evitar que a roda pare de girar.