Não é segredo que desde a sua fundação, em 1975, a francesa Pernod Ricard, uma das maiores empresas do setor de bebidas, tinha a intenção de se internacionalizar. A companhia, dona de rótulos como Chivas Regal, Absolut e Havana Club, sempre teve atuação agressiva na aquisição de marcas. Em 2001, ela incorporou a canadense Seagram’s Wines and Spirit e incluiu o uísque escocês Chivas ao portfólio. No mesmo ano, a empresa aportou no Brasil.

A Pernod chegou aqui com marcas como a vodca Orloff, o rum Montilla e o uísque Natu Nobilis. Em pouco tempo, sua receita saltou para o patamar de € 6 bilhões ao ano. Ainda de olho no mercado brasileiro, que consumiu 711 milhões de litros de destilados em 2017, o grupo anuncia uma nova frente de negócio no País, e que DINHEIRO antecipa em primeira mão: a Brand Factory, uma startup que vai atuar de modo independente da multinacional para acelerar a entrada de novas marcas no mercado brasileiro. A proposta é testar rótulos bem conhecidos lá fora: o champanhe aperitivo Lillet, o rum cubano Havana Club e a tequila superpremium Altos. “O Brasil sempre foi muito centralizado no consumo de cerveja, mas há um forte potencial para as marcas de destilados”, diz Thibault Cuny, CEO da Pernod Ricard Brasil. “O consumidor também se cansou de alguns rótulos e hoje busca ofertas em outras categorias de bebidas”.

De acordo com uma estimativa da consultoria Euromonitor, o mercado de destilados deve crescer ao menos 6% até 2022. Um dos fatores que explicam essa perspectiva de projeção é o gim. A bebida, que se tornou a queridinha dos brasileiros nos últimos anos, registrou crescimento de 150% nas vendas entre 2012 e 2017, mesmo com a desaceleração da economia. Só em 2017, o consumo saltou 66%, para 1,82 milhão de litros. “Ainda há muito espaço para consolidação do gim, principalmente para o consumo em casa, já que em bares e restaurantes o produto acaba ficando mais caro”, afirma Angélica Salado, analista sênior de pesquisa da Euromonitor.

Um brinde: após assumir a operação da Diageo no País em dezembro de 2017, Gregorio Gutierrez volta esforços para o desenvolvimento das marcas de luxo da empresa

Não por acaso, o gim, que deve crescer mais 120% em volume de vendas até 2022, está entre as principais apostas da Pernod Ricard. “A nossa intenção agora é investir em marcas brasileiras artesanais para exportar”, diz Cuny. O executivo ainda revelou à DINHEIRO que vai incentivar a exportação do gim Amázzoni, uma marca nacional fundada há menos de dois anos da qual a Pernod adquiriu uma participação em outubro. “Esse mercado é marcado por tendências. Hoje, o gim está na moda”, diz Marcelo Pontes, especialista em marketing da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). Com os novos rótulos, a empresa francesa fechará 2018 com um portfólio de 40 bebidas no Brasil.

O gim também está bem representado na carta de bebidas da britânica Diageo, dona de marcas tradicionais como o uísque Johnnie Walker e a vodca Smirnoff. A empresa lidera o segmento com 23,4% do mercado — a Pernod, por sua vez, tem 2%. Carro-chefe da Diageo entre os gins, o Tanqueray surfou tão bem essa onda de crescimento que ganhou até um bar pop-up próprio, em uma ação inédita da empresa no País. Apenas entre os dias 21 de setembro e 6 de outubro, o estabelecimento localizado no bairro do Itaim Bibi, em São Paulo, recebeu mais de 3 mil pessoas, que juntas consumiram quase 5 mil drinks. Em dezembro, a Diageo lançará no mercado doméstico a Gordon’s Pink, inspirada em uma receita de 1880, e elaborada a partir de frutas vermelhas como framboesa e groselha.

Para manter a primeira posição, a empresa irá reforçar seu alcance nos pontos de vendas. “Ao colocar os rótulos Tanqueray e Gordon’s mais próximos da água tônica, estamos ajudando o consumidor. Ele é induzido a comprar um pack para fazer os drinks em casa”, diz Gregorio Gutierrez, CEO da Diageo para o Paraguai, Uruguai e Brasil. Como se sabe, o gim tônica é uma das formas mais difundidas de servir a bebida. A julgar pelo interesse do mercado, o drinque pode ocupar parte do espaço da caipirinha — fazendo do gim a nova cachaça.