A rotina da Associação para o Desenvolvimento, Educação e Recuperação do Excepcional (Adere) é repleta de oficinas diárias de artesanato. Nessas aulas, os 84 alunos da ONG paulistana, jovens e adultos com necessidades especiais, produzem cerca de 40 produtos, como bandejas, porta-copos e caixas de presentes, entre outros artigos domésticos. O que poderia ser uma atividade restrita, quase lúdica para essas pessoas, se transformou em uma importante fonte de renda para manter a instituição. É que esses objetos são vendidos nos supermercados da maior rede do Brasil, o Pão de Açúcar. A Adere foi a primeira entidade a fazer parte do projeto Caras do Brasil, criado em 2002, pela companhia, com o objetivo de abrir espaço nas prateleiras para a venda de produtos elaborados por pequenas organizações sem fins lucrativos. 

 

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Daryalva Bacellar (ao lado), do Pão de Açúcar, na ONG Adere,

que faz artesanatos vendidos nas lojas da rede.

 

Dez anos depois, o projeto já conta com a adesão de 64 associações. Os itens produzidos por essas ONGs são vendidos em 70 lojas da bandeira Pão de Açúcar. Até o fim deste ano, eles chegarão às 159 unidades espalhadas pelo País. “Estamos avaliando a expansão para a rede Extra e o início da venda no comércio eletrônico”, diz Daryalva Bacellar, gerente de responsabilidade social do grupo Pão de Açúcar. O projeto Caras do Brasil não se restringe a apoiar associações de artesanato. Ele trabalha com uma diversa gama de ONGs, que produzem de pano de pratos, jogos americanos, peças de decoração até mel. 

 

Uma de suas missões é ajudar essas organizações, oferecendo condições comerciais especiais para melhorar a produção. “Queremos que esses fornecedores se tornem aptos para trabalhar com os demais concorrentes”, diz Daryalva. Por conta disso, o Pão de Açúcar criou uma estrutura exclusiva para essas ONGs e desenvolveu condições especiais de negociação. Um fornecedor comum, depois de vender para a rede varejista, demorará, em média, 40 dias para receber o pagamento. No caso de uma ONG do projeto Caras do Brasil, esse prazo cai para dez dias. Quem investe também no contato direto com pequenos produtores é a rede varejista americana Walmart. 

 

A empresa tem uma plataforma global para incentivar a agricultura familiar. No Brasil, criou o Clube dos Produtores, em 2002, com apenas 14 famílias no Rio Grande do Sul. Naquele ano, comprou R$ 647 mil em produtos. Dez anos depois, o programa tinha dado um salto e tanto, reunindo nove mil famílias em 365 municípios de 12 Estados brasileiros, e adquiriu mais de R$ 125 milhões em produtos. Os itens do Clube já representam 17% do sortimento no setor de hortifrutigrangeiros. A meta é chegar a 50%. Um dos objetivos da Walmart com o projeto é a eliminação do intermediário, que pressiona o pequeno agricultor com um preço baixo e revende para o varejista por um preço alto. 

 

“Comprando diretamente, pago um preço melhor, que permite um investimento na agricultura das famílias”, diz Alain Benvenuti, vice-presidente de perecíveis do Walmart. Para recrutar novos membros do clube, uma equipe do Walmart viaja pelo País em busca de produtores qualificados. O investimento da varejista nessas parcerias tem duplo resultado: deixa as gôndolas com maior variedade e melhora a imagem da empresa junto às comunidades. Um dos exemplos mais bem-sucedidos é a parceria com a Cooperativa de Produtores Rurais de Presidente Tancredo Neves, na Bahia. O Walmart absorve 70% de suas vendas, formada por 199 associados e famílias que vivem exclusivamente da terra. De suas lavouras vão para as gôndolas produtos como farinha de mandioca, banana-da-terra e abacaxi.

 

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