Do inferno da burocracia passando pelo purgatório da crise energética, o ministro-chefe da Casa Civil, Pedro Parente, finalmente chegou ao paraíso. Escalado pelo presidente Fernando Henrique como gerente da transição, Parente terá nas mãos o poder de costurar, junto à equipe do candidato eleito, os primeiros passos da nova administração. Qualquer que seja o vencedor, terá de recorrer ao ministro para entender e desvendar segredos guardados a sete chaves pelo Executivo. Mesmo quem faz oposição ao atual governo vê méritos na escolha. ?Parente integra um time de burocratas que subiram na carreira porque aprenderam traquejo político?, disse à DINHEIRO o cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília.

A idéia de ajudar a equipe do futuro ocupante do Planalto, municiando-a com informações sobre a máquina governamental, foi de Fernando Henrique. Pouco afeito a tecnicidades, entretanto, o presidente chamou Pedro Parente em seu gabinete. Ordenou ao subordinado que desenhasse um modelo de trabalho conjunto eficaz. Um mês após a conversa, o ministro-chefe da Casa Civil elaborou uma cartilha para o repasse dos dados. Em dezembro de 2001, Parente já havia criado um calendário para organizar a chamada ?Transição Institucional?. O resultado é que FHC criará, por meio de medida provisória, 50 cargos remunerados. Serão preenchidos por assessores do futuro presidente. Além disso, três decretos e uma portaria vão garantir que a cooperação não será apenas conversa para inglês ver. A escolha de Pedro Parente para azeitar a transição tem resposta simples. Não é segredo em Brasília que Fernando Henrique pretende deixar o governo sob a égide de grande estadista. Não podia, portanto, correr o risco de repetir a experiência constrangedora que marcou a troca entre José Sarney e Fernando Collor, quando também foram criados cargos para a transição, mas sem remuneração. O resultado foi uma grande troca de acusações.

 

Estóico, analítico e extremamente rigoroso com prazos, Parente é visto por seus pares de Esplanada como ministro dos ministros. Fez carreira no Banco Central, tornou-se consultor do Fundo Monetário Internacional, entre 1992 e 1994, foi secretário dos governos Sarney e Collor. Mas foi com a ascensão de Fernando Henrique que o ministro ganhou projeção. Alçado a secretário-executivo do ministro Pedro Malan, da Fazenda, Parente foi um dos principais mentores do ajuste fiscal implementado em 1997. Depois disso, ganhou o Ministério do Planejamento e, em julho de 1999, assumiu a Casa Civil. ?Fernando Henrique só despachava com ele por perto,? conta o deputado Roberto Brant (PFL-MG). Tamanha confiança foi testada em maio de 2001, época em que o País foi surpreendido pelo racionamento de energia. Acumulou a função de coordenar a Câmara de Gestão da Crise de Energia. Isso porque era o único assessor de FHC que obtinha consenso entre os ministros afetados no problema. Deu certo. Um ano depois, o setor elétrico escapou à ameaça de colapso ? pelo menos temporariamente.