Após o lote de revezes econômicos e as más notícias em cascata, eis que a confirmação de uma extraordinária descoberta de poços de gás natural em Sergipe e Alagoas, no maior anúncio desde o pré-sal em 2006, vem reabilitar os ânimos da população. Não é pouca coisa. São seis campos de monumental capacidade de produção – algo equivalente a um terço de tudo que o País gera de produção na área anualmente. Um potencial capaz de catapultar o Brasil à condição de um dos maiores fornecedores globais de gás. Mas o que a revelação traz de concreto e de retorno imediato, palpável, pode animar a todos os consumidores brasileiros, empresas e usuários pessoas físicas: o barateamento em até 50% do custo do produto.

Somente isso já traz a reboque uma série de consequências positivas. Muitos começam a falar em uma nova e promissora fase de industrialização. Com o insumo a preço baixo, fábricas e comércio podem pensar na ampliação de seus negócios. A competitividade aumenta e o ganho de eficiência redunda em lucro. Na outra ponta, o governo já pensa em ampliar exportações. Estão em estudo também entendimentos com investidores privados para a venda de participação na exploração. Estimativas oficiais apontam para receitas sobressalentes da ordem de R$ 7 bilhões ao ano, oriundas desses poços.

A própria Petrobras começa a recalcular metas e a refazer seu planejamento estratégico para adicionar esse novo gás (literalmente) aos seus resultados. São promissoras as possibilidades especialmente para as regiões onde ficam as descobertas. Os estados de Sergipe e Alagoas passaram a tratar da ampliação de infraestrutura local para receber parceiros e uma população habitacional ainda maior. É a roda da economia girando no sentido certo. E particularmente através de um setor, a cadeia de óleo e gás, que entre os anos de 2014 e 2017 andou de lado, mergulhado em escândalos e paralisação das atividades de pesquisa e exploração de novos mananciais.

Na avaliação de analistas, o “choque de energia barata” e de tarifas mais em conta tem potencial para reabilitar o crescimento econômico e afastar os riscos de recessão que se apresentavam no horizonte. Pelos dados do Ministério das Minas e Energia, a Petrobras deverá gastar inicialmente algo da ordem de R$ 2 bilhões neste ano para delimitar o reservatório e construir um gasoduto até a costa. A reserva encontra-se em águas profundas – como boa parte dos combustíveis nacionais -, mas esse não é um impeditivo, dado que o Brasil detém o melhor know how de exploração nesses níveis. Se estava faltando um gás para mudar o eixo de discussões rumo à retomada, não falta mais.

(Nota publicada na Edição 1126 da Revista Dinheiro)