O futuro chegou, mas ele não é exatamente como nos contaram que seria. Não encontramos nem o futuro hiper-hitech dos reports de tendências nem o distópico dos filmes de ficção científica. O que vemos é uma grande colcha de retalhos onde pedaços de futuro são costurados ao presente e ao passado formando um confuso patchwork temporal.

A tecnologia evolui mas não acompanha a velocidade das expectativas dos amantes da inovação. Até porque a construção do futuro é um tanto mais complexa do que distribuir disrupções em uma linha do tempo, sentar e esperar as previsões se concretizarem.

Há vinte anos, no livro O ponto de virada (The tipping point), o escritor Malcolm Gladwell já nos dava pistas sobre a anatomia de uma disrupção ao citar três fatores determinantes para a mudança: o poder do contexto; de pequenos eventos aparentemente sem conexões entre si; e de um grupo reduzido de pessoas responsáveis por disseminar uma tendência.

Não basta uma tecnologia existir. Ela precisa de infraestrutura para se disseminar e uma sociedade madura o suficiente para incorporá-la quase sem se dar conta disso.

Mas os próximos dez anos prometem grandes avanços. A chegada do 5G já é uma realidade iminente e com ela possivelmente serão destravadas algumas tecnologias há muito aguardadas como carros autônomos, drones para entregas, transporte de pessoas e realidade virtual — tudo isso em grande escala mais para a segunda metade da década. Importante: a China já iniciou o desenvolvimento de sua tecnologia 6G.

Entre 2020 e 2025 estaremos ocupados distribuindo antenas 5G até em formato de fita adesiva por todos os lados ao mesmo tempo em que assistiremos aos carros elétricos finalmente dominarem as ruas.

Ao longo de toda a década delegaremos tarefas cada vez mais importantes para as máquinas por meio do uso crescente de comando de voz, — como já previu o autor Yuval Noah Harari do livro 21 Lições para o século 21 — e isso nos dará crescente confiança para finalmente deixar os carros dirigirem por nós quando chegar o momento.

Antes de mergulharmos de cabeça na realidade virtual, o que provavelmente nos libertará das telas de celular (algo previsto para vingar no final dos anos 20 deste século), usaremos os primeiros anos da década para incorporar a realidade aumentada e mista no nosso dia-a-dia, como já fazemos através de filtros do Instagram e, em dois ou três anos, faremos com óculos de realidade aumentada prometidos pela Apple, Samgung e Google.

Tudo isso será um grande ensaio para aos poucos nos acostumarmos ao conceito de “Human Enhancement” o que em um futuro bem mais distante significaria uma fusão entre o ser humano e a tecnologia.

Mas será que teremos um planeta até tudo isso acontecer? A próxima década será decisiva para essa resposta e poderemos assistir à gênese de um movimento global mais robusto liderado por alguns membros da geração Z que mobilizarão o mundo para que ações práticas sejam tomadas.

À medida em que a conscientização ambiental continue a se expandir veremos o amadurecimento de mercados e negócios ligados ao veganismo, consumo consciente e biophilic design. Uma sociedade que vive cada vez mais em centros urbanos barulhentos se tornará consciente do valor dos seus dados, da sua liberdade e do seu bem estar, e transformará em mercadorias o silêncio, a autonomia e a privacidade.

Seja mais rápido ou demorado do que se esperava, o futuro chegou, meio desajeitado mas chegou, Ele egixe pessoas e organizações prontas para agir nos desafios emergentes e nos de longo prazo, que são inegociáveis. Bem-vindo a 2020.