Quatro meses após o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovar a compra da Reserva pela Arezzo&Co por R$ 715 milhões, em uma transação que agitou o mercado da moda, ganha foco o primeiro produto resultante da integração dos portfólios: a Reserva Go, marca que reúne as linhas de calçados e acessórios da Reserva. “Era um negócio de royalties, de 8% a 10% do faturamento”, afirmou à DINHEIRO Rony Meisler, CEO da Reserva. “Passamos a produzir, a desenvolver e a distribuir esses calçados. Agora é um negócio quase dez vezes maior só de internalização, em termos de lucratividade e receita.”

A Reserva Go responde por 13% das vendas nos pontos físicos próprios da Reserva, e o executivo acredita que esse percentual possa dobrar em até dois anos. “Esse é o primeiro movimento na transformação que vamos fazer com todas as marcas da Reserva.” O mercado brasileiro de moda e calçados movimentou R$ 106,2 bilhões em 2020, redução de 24,2% em relação a 2019, segundo a consultoria Euromonitor, que projeta um faturamento de R$ 143,2 bilhões em 2025.

Um das novidades anunciadas pela empresa é a linha Simples, primeira aventura da Reserva Go no segmento de tênis feminino – até então, a bandeira comercializava apenas modelos masculinos e infantis. O desenvolvimento dos produtos ganha agilidade com a utilização de um software criado pela Arezzo. Com o uso da ferramenta, a Arezzo leva, em média, 60 dias para fazer um modelo de calçado chegar às prateleiras, desde a sua concepção. Na Reserva eram necessários até 150 dias. Empolgado com o ganho de eficiência, Meisler planeja colocar em operação ainda este ano um centro de prototipação rápida no Vale do Itajaí, para o segmento de malharia, responsável por mais de 60% do faturamento da Reserva. “Agora, estamos no início de desenvolvimento para lançamento da nossa linha feminina de roupas”.

VENDAS EM CRESCIMENTO Apesar do abre e fecha das lojas físicas na pandemia, a empresa aposta em ferramentas como o Now para oferecer produtos aos clientes. (Crédito:Divulgação)

A sinergia entre a Reserva e a Arezzo se estende à complementariedade dos serviços. Enquanto a primeira atende principalmente o varejo por meio de lojas próprias (são 82), além de 40 franquias que representam uma menor parte da receita, a segunda possui foco em sell-in (venda do fabricante para o varejista), por ser um negócio de franquias e multimarcas. “A ideia é emprestar um pouco do valor de sell-out da Reserva para a expansão dos negócios da Arezzo”, disse Meisler. A Arezzo possui 779 pontos de vendas, entre próprios e franquias, 11 deles no exterior.

A estratégia de crescimento da Reserva está nas ferramentas digitais que a ajudaram a suportar a queda no faturamento, após o fechamento dos pontos físicos, devido às restrições de circulação pelo País. O crescimento do modelo chegou a 300% em relação a 2019. Desde setembro, a marca tem registrado também crescimento médio de dois dígitos mês a mês nos negócios na comparação com 2019, quando faturou R$ 400 milhões. As vendas ganharam força ainda com a adoção de um software chamado Now, ferramenta de automatização que registra, por exemplo, o histórico de uma pessoa na Reserva. Com o uso de machine learning e algoritmo, o sistema cria uma lista de ligações que o vendedor pode fazer a um cliente apenas para parabenizá-lo pelo aniversário de casamento e não vender nada. “Ou até para falar que ela gosta de camisa xadrez e que chegaram três do tamanho dele desde a última vez em que se relacionou com a marca, e que podem ser enviadas para a casa dele.”

HOMEWEAR Desde a adoção do home-office, a Reserva registrou aumento da demanda por homewear, roupas confortáveis para trabalhar de casa, e migrou rapidamente o sourcing para temas peruanos, com um produto que carregasse tecnologia antibactericida. Lançou uma máscara usando tecnologia atestada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) que teria em 99,9% dos casos a capacidade de inativar o vírus, além de emplacar uma linha que vai de camisa social até cueca, que explodiu durante a pandemia. “Criamos também uma linha de sandálias para o cliente comprar duas. Uma fica do lado de fora da porta da residência e a outra, dentro. Também foi um sucesso.”

NOVIDADE NO PORTFÓLIO Linha Simples é a primeira aventura da Reserva Go em tênis feminino. A marca vendia só modelo infantis e masculinos. (Crédito:Divulgação)

E como foguete não dá ré, como Meisler costuma repetir aos mais de 1,5 mil funcionários, a Reserva participa de um projeto com o empreendedor digital Marcos Moares de olho no crescimento das vendas. Com uma simples fotografia, a pessoa poderá se ver vestida com qualquer peça de roupa da marca. “Bastará apertar um botão na nossa página de produtos e o resultado aparecerá.” O protótipo já existe e a ferramenta deve entrar em operação em breve. Um sinal de que a nova viagem da Reserva e das suas seis marcas (Reserva, Reserva Go, Reserva Mini, Oficina Reserva, EVA e INK) está apenas começando, agora turbinada pela Arezzo e as suas sete bandeiras (Arezzo, Alexandre Birman, Alme, Anacapri, Fiever, Schutz e Van). Como um bom casamento.