Um dos últimos símbolos de uma geração arrojada de banqueiros brasileiros desapareceu nos últimos dias, discretamente, sem chamar a atenção. Depois de um longo período de esvaziamento, o Banco Matrix acabou. Seus nove sócios estão deixando, um a um, o moderno escritório na avenida Juscelino Kubitschek, em São Paulo. Na semana passada, foi a vez de Roberto Moritz, um dos cinco fundadores, se mudar do prédio. Moritz vai se dedicar a negócios pessoais, num escritório com outro criador do Matrix, o economista André Lara Resende, um dos pais dos planos Cruzado e Real. Os dois serão vizinhos de trabalho, em companhia do ex-diretor da corretora Hedging-Griffo, Bruno Sechin, mas cada um cuidará de seus próprios investimentos.

Na diáspora do Matrix, cada um dos nove sócios terá destino
bem diferente. Antônio Carlos Freitas Vale, o Tom, vai abrir um
fundo de investimentos. Roberto Ruhman voltou a dirigir aplicações no Banco Safra. Moritz, Tom e Ruhman eram os três sócios majoritários, que controlavam o Matrix. Entre os seis sócios minoritários, alguns resolveram aproveitar o prestígio pessoal para abrir ou comandar administradoras de fundos de investimentos,
como Rodrigo Bresser Pereira, Carlos Ambrósio, Helder Soares e Bento Barros. Já Marcos Kheiralah voltou a dirigir os fundos offshore do Pactual e Marcelo Bandeira de Mello abriu um escritório de advocacia. Em comum, eles carregam a história de ousadia do Matrix. Ao lado do Garantia, do Pactual e do Icatu, o Matrix ficou conhecido nos anos 90 como uma das principais experiências brasileiras na tentativa de criar agressivos bancos de investimentos e de oportunidades no estilo americano.

O Matrix foi fundado em 1993 por um elenco de estrelas das finanças, como Luiz Carlos Mendonça de Barros, que viria a se tornar ministro das Comunicações, e André Lara Resende. Na equipe original de sócios aparecia também o ex-presidente do Citibank no Brasil, Antônio Carlos Boralli, além de Moritz e Ruhman, ex-executivos
do Safra, e Tom, que havia trabalhado no Garantia. Em pouco tempo, eles passaram a chamar a atenção pelos bons negócios que faziam com dinheiro do banco, em apostas em juros, câmbio e títulos da dívida. Ganharam muito dinheiro. Só em 1995, o banco lucrou
R$ 43,3 milhões ? uma impressionante rentabilidade de 44% do patrimônio líquido.

Logo o banco foi cercado por boatos de que desfrutava de informação privilegiada, pela presença de Mendonça de Barros e Lara Resende em seus quadros, mas nada foi provado. Mesmo depois da saída de Mendonça de Barros, em outubro de 1995, e de Lara Resende, em agosto de 1997, o banco continuou cercado de boatos. E também continuou a ganhar dinheiro. ?O Matrix teve uma das tesourarias mais ganhadoras do mercado, com ou sem o André Lara e o Mendonça de Barros?, diz Erivelto Rodrigues, da consultoria Austin Asis.

Com os bons resultados, os sócios do Matrix se animaram a aceitar aplicações de clientes em seus fundos de investimento. Em 1997, os fundos do Matrix chegaram a um patrimônio de US$ 1,8 bilhão. Mas, com o passar do tempo, o negócio se tornou um peso. Vieram as crises da Ásia, em 1997, da Rússia, em 1998, e da desvalorização do Real, em 1999. O risco cresceu muito. Ao mesmo tempo, a competição aumentou brutalmente, as taxas de administração despencaram e ficou mais difícil concorrer com os gigantes do mercado. O Matrix jogou a toalha e passou seus fundos de investimentos para o Itaú.

Desde então, o Matrix se dedicou a administrar os recursos pessoais de seus sócios. Eles chegaram a ser sondados para vender o banco e trabalhar como executivos, mas recusaram. ?Não queríamos uma algema de ouro?, diz um dos sócios. Mas, pouco a pouco, eles perceberam que não tinham o mesmo interesse de antes de manter o banco. ?O cenário mudou, ficou mais imprevisível, não era mais favorável a um banco de oportunidades como o Matrix?, diz Tomás Awad, analista do BBA. Desde o final do ano passado, os sócios começaram a correr atrás de seus próprios projetos. Com a saída de Moritz, eles acabam de cumprir uma velha previsão de outro sócio, feita no auge do Matrix. ?Nós estamos um banco, não somos um banco?, dizia Tom.