Após quase 12 anos preso, o fraudador americano Bernard L. Madoff morreu na quarta-feira (14) aos 82 anos, em um hospital penitenciário na Carolina do Norte. A causa da morte foi uma falência renal. Poucos meses antes de morrer, ele havia solicitado às autoridades americanas sua libertação devido à saúde precária. Inutilmente. No que dependesse da Justiça americana, ele não sairia da cadeia vivo. Em 2009, Madoff foi condenado a 150 anos de prisão por elaborar a maior pirâmide financeira da história de Wall Street. O esquema fraudulento lesou milhares de investidores de alta renda, gestores de fundos e pecúlios de universidades americanas, gerando prejuízos estimados em US$ 20 bilhões.

Madoff foi o exemplo mais bem acabado de que, sem controles estritos, uma boa narrativa pode ludibriar o mais cauteloso dos investidores. Sua origem era humilde. Neto de imigrantes judeus do Leste Europeu, ele casou-se com a filha de um contador. Pagou a faculdade (e o lançamento de sua empresa de investimentos) com o dinheiro ganho durante a universidade trabalhando como salvavidas e instalando hidrantes de incêndio, nos anos 1960.

Seu negócio prosperou pela abordagem pragmática. Em vez de tentar competir com os gigantes do ramo, sua companhia vendia ações negociadas no mercado de balcão, à época muito maior e mais diversificado do que as bolsas de valores americanas. Além disso, ele sempre foi um entusiasta da tecnologia, tendo sido um dos primeiros a usar computadores para aumentar a eficiência dos negócios. Isso o tornou um dos fundadores do mercado eletrônico que hoje movimenta trilhões de dólares, o Nasdaq. Ao longo do tempo, ele tornou-se uma das vozes mais respeitadas do mercado de capitais americano.

Desde o começo, porém, Madoff fraudou seus clientes. Ele não prometia lucros espetaculares, mas uma rentabilidade constante e previsível, algo irresistível para investidores conservadores em tempos de volatilidade. Com isso, ele conseguia um fluxo constante de recursos, que eram usados para pagar os investidores que tinham chegado antes, em um esquema clássico de pirâmide. A fraude só foi descoberta em 2008. A crise do subprime fez secar a fonte de recursos novos, e vários investidores solicitaram resgates para cobrir prejuízos, resgates que Madoff não foi capaz de honrar. Em dezembro de 2008 ele confidenciou a fraude aos dois filhos, que trabalhavam com ele e o denunciaram às autoridades.

O custo pessoal foi pesado para Madoff. Além de ter todos os seus bens confiscados para pagar indenizações, seu filho mais velho cometeu suicídio dois anos após a descoberta da fraude, e o caçula morreu de câncer pouco tempo depois disso. Alegadamente, devido ao stress do julgamento do pai.

A gigantesca fraude não poupou alguns endinheirados brasileiros. Eles eram cotistas de fundos internacionais que investiam nas aplicações de Madoff. No entanto, como no início da década passada as aplicações financeiras no exterior não eram tão populares por aqui, a lista de vítimas é pequena.